quarta-feira

Serão Psora, Sicose e Sífilis apenas imperfeições humanas?

A pergunta expressa no título deste artigo terá, como respostas, sim e não. Sim, caso a humanidade não evoluísse moralmente, não, pois a evolução, também moral, é lei divina e, portanto, irrevogável.
Comecemos o nosso estudo pensando como seria possível que Deus, a perfeição absoluta, a bondade infinita, distinguisse Suas criaturas somente com o selo da imperfeição, nada mais restando a elas do que se adaptarem aos defeitos impressos em seus espíritos desde que foram criadas? Se o Homem comum, imperfeito que ainda é, faria tudo para não transferir tal herança inapelável aos seus filhos, como o Criador de todas as coisas, em Sua misericórdia eterna, geraria tal distorção? Portanto, Psora, Sicose e Sífilis, em princípio, têm uma razão superior para existir e é este o tema das linhas que seguem.
Vivemos, no momento, em um universo tridimensional, pois tudo o que nos cerca, e nós mesmos, possuem uma altura, uma largura e uma profundidade, o que proporciona a massa total (ou peso) de cada objeto. Mesmo os minúsculos vírus têm estas três dimensões e suas massas. Além disto, enquanto imperfeitos, somos o somatório de dois níveis principais de consciência, aos quais as milenares filosofias orientais nomeiam como Espírito e Ego (Krishna e Arjuna, no Bagavah-Gita) e o Espiritismo denomina Espírito e Periespírito. Nosso objetivo, mesmo quando o ignoramos, é levar a consciência de uma camada mais superficial (ego), para a mais profunda de todas (espírito), trabalho difícil, que demanda séculos de tentativas, erros e acertos e que jamais poderia ser realizado em apenas uns poucos anos, como propõe algumas religiões cristãs. Durante o período de existência em que nosso “dial” psíquico está sintonizado no ego, necessitamos de impulsos inconscientes para que progridamos, a despeito da maior ou menor ignorância pessoal. Inclusive nos vegetais e nos animais, até nas algas, cogumelos e bactérias, ou mesmo em vírus, estes impulsos estão presentes e são facilmente perceptíveis. Assim, quando um ser vivo reage aos estímulos externos, de maneira reflexa ou muito mais elaborada, há, nesta reação, o impulso da sobrevivência, que pode variar desde a procura por alimento, até a luta perante um oponente ou a fuga para não ser destruído, três aspectos, semelhantes às três dimensões em que ora vivemos. Portanto, sobreviver, na Terra, significa alimentar-se e, também, defender-se de agressões externas, seja pelo enfrentamento, seja pela fuga. Há, ainda, a sobrevivência da espécie, o que necessita reprodução dos indivíduos, sexuada ou assexuada. Quando um organismo se adapta bem ao meio que o cerca, vemos que ele se alimenta satisfatoriamente e, com isto, tem maior possibilidade de conservar-se vivo, enfrentando ameaças ou escondendo-se delas com habilidade, além de reproduzir-se normalmente. Temos, portanto, três parâmetros que guiam os indivíduos para o sucesso da vida:
1 – Alimentação
2 – Enfrentamento (e reprodução)
3 – Fuga (mimetismo etc)
Quando se alimenta, a criatura está, digamos, em um estado de tensão contida, já que procura satisfazer uma necessidade básica mas não se vê submetida a um risco maior e imediato à vida. Porém, ao ser ameaçada por outro indivíduo ou pelo meio que a cerca, há risco iminente de morte e ela se defende, enfrentando a ameaça ou fugindo. Já na reprodução sexuada, o macho e a fêmea têm de estar de acordo com o mesmo objetivo de perpetuação da espécie, o macho dominando e a fêmea deixando-se dominar no enfrentamento sexual. Mesmo na reprodução assexuada de seres inferiores, inclusive na simples divisão de organismos unicelulares, está havendo uma forma de enfrentamento ao meio pois a espécie sobrevive à morte dos indivíduos.
À medida que a evolução se faz sentir, que emerge o reino hominal e a razão participa dos atos comuns, os três princípios indispensáveis à vida passam por elaborações mais sofisticadas na mente. O Homem moderno continua com os impulsos elementares de se alimentar, de enfrentar as dificuldades externas do dia-a-dia e de se reproduzir mas, agora, a comida está nas lojas, fácil de ser obtida desde que se tenha dinheiro. Não lutamos mais com leões ou crocodilos para sobreviver mas precisamos trabalhar (ou roubar, quando moralmente afetados) a fim de termos dinheiro que reverterá em alimentação e abrigo. Já não são apenas o corpo e os reflexos condicionados que participam das ações de conseguir comida e parceiro para copular, de lutar ou fugir das ameaças, porém, principalmente, é o intelecto que age. Mesmo assim, os impulsos primitivos subjazem nas pessoas, impulsionando seus corpos à ação, enquanto elas necessitam, muitas vezes, estar oito horas ou mais sentadas em um gabinete, pensando. Ou seja, o que antes era impulso alimentar, com as conseqüentes atividade física e tensão contida, transformou-se em apenas tensão contida, ansiedade sem causa aparente, desejo de não se sabe o que. O que antes levava nossos corpos a se prepararem para a luta de auto-defesa manifesta-se, hoje, como agressividade imotivada e anseio de dominar o outro e as situações, tanto explicitamente quanto de maneira disfarçada, e de possuir tudo o que nos possa dar prazer, mesmo que efêmero. Ou, também, vontade de destruir o que pensamos ser ameaça e fugir para dentro de um apartamento com cinco trancas nas portas. Não é de admirar que o Homem moderno se sinta tão infeliz partindo de ilusões como essas para construir sua vida, e seu principal equívoco consiste em achar-se distante de Deus. Passa a crer no acaso, na sorte ou no azar, a dirigirem o universo e seu destino, corroborado que é pela Ciência oficial, tão evoluída mas filosoficamente obtusa quanto ele próprio, pois que lhe é filha amada. Perdido nas três dimensões em que vive, não consegue ou não quer entender que outras realidades existem além daquelas que ele toca, cheira, saboreia, escuta ou vê. Pobre ser...
Foi neste contexto da vida humana inteligente que a ansiedade por comer, o impulso para perpetuar a espécie, o enfrentamento e a fuga a um meio hostil transformaram-se em Psora, Sicose e Sífilis. A culpa pelos equívocos de outrora leva à Psora. Esta, mal dirigida, à Sicose e à Sífilis. As três, em conjunto, gerando mais erros que alimenta a culpa e a Psora, que gera mais Sicose e mais Sífilis etc...Terá o ser humano alguma saída?
Sim, há uma saída e Jesus alertou-nos que a “porta é estreita”, isto é, não é fácil romper com esta roda de culpa que leva a mais erros que leva a mais culpa. A saída é Deus, mas de forma alguma este Deus humanizado que inventaram outrora para justificar as atitudes sicóticas de uma elite. O que a humanidade necessita, e para isto Jesus aqui veio, é melhor entender a divindade, o Seu amor por tudo e por todos, a Sua presença contínua entre nós e “dentro” de nós, a razão de nosso viver, a fraternidade como princípio e a caridade como fim. Não é só acreditar nesses princípios que sempre foram oferecidos como remédios definitivos às mazelas humanas, desde a Antigüidade, mas entende-los para aplicá-los. Conheço muitas pessoas que dizem ser impossível, para elas, ter fé, como se a fé fosse um par de sapatos que se adquire na esquina com alguns trocados. A fé, na humanidade moderna, deriva da razão e é indispensável alimentar a razão com princípios lógicos para que ela creia. Ora, não será mostrando um Deus que seria perfeito não fosse um tirano insensível, a premiar quem Lhe bajula e a oferecer castigos terríveis e inexoráveis a quem ainda não O conhece ou não se prontificou a encontra-lO, que mudar-se-á nossa consciência e ter-se-á fé. Uns poucos conseguem ter fé, muitas vezes fanatizando-se, em um Deus deste jaez. Digo mais: se não se apresentar ao ser humano a reencarnação como recurso divino misericordioso à regeneração e à evolução, se não se acabar com a invenção obsoleta de que os ditos mortos não podem se comunicar com os ditos vivos - mesmo que esta comunicação seja confirmada a cada dia, até através de aparelhos eletrônicos; se não se exterminar com a figura do diabo como entidade única, a guerrear com Deus, quase em igualdade de condições; se não for extinta a noção absurda de castigos eternos em um inferno qualquer, sem nenhuma chance de perdão justamente daquele que é puro amor, a Psora, a Sicose e a Sífilis continuarão a ceifar vidas e a promover infelicidade e dor. Ofereçamos, principalmente ao jovem, tais instrumentos lógicos de aquisição da fé, e veremos os três miasmas, Psora, Sicose e Sífilis, pouco a pouco retornarem às origens de promotores dos impulsos alimentares, procriativos e defensivos, até extinguirem-se por desnecessários que serão em um mundo de paz e de amor. Será um longo caminho, individual e coletivo, para o ser humano, mas temos de dar o primeiro passo e sair do lodaçal onde nos encontramos. Além do mais, somos eternos e herdaremos os frutos de cada ação do presente. Avante, pois! O futuro dobrará o pescoço dos arrogantes de hoje, e dos falsos profetas também...