Como a Homeopatia é uma especialidade médica pouco conhecida em sua profundidade e tradicionalmente usada nas famílias, para tratamento doméstico, receitada pelas vovós, surgiram versões distorcidas, populares, do que vem a ser esta especialidade. Tais equívocos foram pouco a pouco sendo incorporados à especialidade, tanto por intermédio dos leigos quanto entre alguns médicos alopatas, e viraram tradição. Lamentavelmente, ainda hoje os homeopatas têm de lidar com mais esta dificuldade em sua especialidade. Com o fim de desmistificar o que dizem sobre a ciência homeopática, relaciono, a seguir, os mitos e lendas que persistem:
1º A HOMEOPATIA É LENTA EM SUA AÇÃO.
Creio que esta idéia surgiu exatamente por causa do receituário homeopático popular. As pessoas, no século XIX e ainda em nossos dias, sempre tiveram a tendência à auto-medicação ou, o que dá no mesmo, ao tratamento doméstico das enfermidades, reservando a presença do médico para os casos mais graves. Nossas avós escolheram o tratamento homeopático por causa de sua aparente ausência de efeitos colaterais imediatos, quando comparado com as drogas mais agressivas da alopatia. Algumas farmácias homeopáticas antigas, vendo uma fonte de lucro nas receitas populares, trataram de incentiva-la, montando, inclusive, para venda, caixinhas dos remédios mais comuns e “dicas” de suas principais indicações. Sem dúvida, essas caixinhas eram úteis em um primeiro momento, quando o remédio atuava. Porém, por conta da multiplicidade de efeitos dos remédios homeopáticos, em vários órgãos e sistemas, e das peculiaridades necessárias para receita-los bem, as boas velhinhas erravam muito em suas prescrições, pelos motivos expostos abaixo:
Na Homeopatia, temos o remédio perfeita e individualmente indicado no tratamento e que cura desde a mente até o corpo – o simillimum. Se a indicação do remédio não o relaciona exatamente com o doente, qual chave na fechadura, a cura não se apresenta, embora possa haver uma certa melhora da doença – temos aí o remédio que chamamos de similar. Quando o medicamento está tão mal indicado que em nada se parece com as queixas dos enfermos, eles só pioram ou, no mínimo, nenhum distúrbio perceptível acontece.
Nos pacientes que tomam seus remédios perfeitamente indicados, a cura é muito rápida, se houver, no doente, boa vitalidade. Existem casos, porém, em que a enfermidade está há anos infiltrando no organismo das pessoas, ajudada pelas supressões (vide artigo específico neste blog), supressões estas que são feitas por conta própria e com a ajuda involuntária dos alopatas. Seria impossível eliminar as doenças, assim tão enraizadas, de um momento para o outro, e faz-se necessário um tratamento mais ou menos prolongado para desalojar o mal. Aí está um dos pontos mais difíceis de serem entendidos pelos leigos, acostumados que estão com as receitas alopáticas, cujo objetivo é combater UMA doença específica, não à totalidade dos males de algum paciente. Podemos comparar a dois operários, um muito lento e preguiçoso e outro bastante ágil e atuante. Digamos que a escala de serviços colocou o operário preguiçoso para construir uma pequena parede de tijolos, com um metro de extensão. Já o operário ativo foi posto para erguer outra parede de tijolos, com 50 metros de extensão. Apesar das características opostas dos dois trabalhadores, é bem provável que o preguiçoso termine primeiro sua obrigação. Em um olhar superficial, o bom operário seria tido como lento pois, ao final do dia, ainda não concluira sua parede, enquanto seu colega já estava de banho tomado e cartão de ponto na mão, doido para sair correndo para casa.
Portanto, as prescrições homeopáticas erradas de nossas vovós e, o que é pior, de muitos médicos mal-preparados, jamais curam, quando muito propiciam pequenas melhoras e as doenças demoram um longo período ativas antes de serem suprimidas. Além disto, as receitas corretas, como referi acima, feitas por bons homeopatas, vão fundo nos enfermos e, aí, passam a debelar os males presentes, etapa por etapa, até chegarem à cura desejada, necessitando, para isto, algum tempo, tão mais longo quanto mais antiga for a doença. E, ainda mais, nesse processo de cura, pode-se presenciar pequenas reações, chamadas de agravações homeopáticas, além de breves passagens dos doentes pelos antigos males que tiveram na vida (Lei de Hering), situações estas importantíssimas para a cura e que são desastrosamente medicadas por mãos inábeis. Não é de admirar, por tudo isto, que um tempo mais dilatado, às vezes, será necessário para se curar alguém, mas curar realmente, em sua totalidade, não apenas fazer uma ou outra doença sumir. Entretanto, em se tratando de doenças agudas, como gripes, infecções urinárias, pneumonias etc, o tratamento homeopático mostra toda a sua velocidade de ação, às vezes superior aos antibióticos e antinflamatórios tão endeusados em nossos dias.
Assim, nos casos crônicos, não é a Homeopatia que pode ser acusada de lenta mas, sim, é a doença que está profundamente instalada no organismo, manifestando-se ora com uma denominação, ora com outra e sendo, no fundo, uma só enfermidade, conforme assinalei em artigos adiante.
2º A HOMEOPATIA É ÚTIL PARA ALGUMAS DOENÇAS, MAS É FRACA PARA OUTRAS.
Quem diz isso mostra bem o seu total desconhecimento do assunto. Já soube de alguns alopatas que assim “orientaram” seus pacientes: “Para alergia a homeopatia serve, mas nem pense em tratar de otites com um homeopata. Só vai continuar piorando”. Falam desta forma e nunca leram um compêndio homeopático ou observaram, com isenção, os resultados obtidos. É assustador... Em meus anos de prática homeopática já tratei de enfermidades as mais variadas, com sucesso em grande parte delas, graças a Deus, e esta casuística não é exclusividade minha, pode ser dividida com a maioria dos homeopatas de todo o planeta.
3º A HOMEOPATIA É UM TRATAMENTO À BASE DE PLANTAS.
Errado. Usam-se os três reinos da Natureza na elaboração dos remédios homeopáticos – mineral, vegetal e animal (vide artigo adiante). Exemplos: Calcarea sulphurica – mineral, Lycopodium – vegetal, Lachesis – animal.
A especialidade médica que utiliza somente plantas como remédios denomina-se Fitoterapia e é um ramo da alopatia, nada tem com a homeopatia. Chás e tinturas não são remédios homeopáticos.
4º A HOMEOPATIA É COMPLICADA DE USAR PORQUE SE FAZ NECESSÁRIO TOMAR OS REMÉDIOS MUITAS VEZES AO DIA.
A que Homeopatia alguém que assim fala está se referindo?
Infelizmente, existem duas Homeopatias: a pluralista e a unicista. A pluralista receita mais de um remédio para cada enfermo, enquanto a unicista utiliza somente um remédio, em doses eventuais.
Não deveria haver esta divisão pois a filosofia homeopática é muito clara em seus princípios, mas o ser humano tem sintonias tão fortes com algumas tendências, mesmo dentro da Ciência, que fica difícil mudar seus pontos de vista.
É sabido a irritação de Hahnemann com os homeopatas que praticavam o pluralismo, já naqueles tempos recuados. E com razões lógicas para isto, entre outros motivos pelo fato das ações dos medicamentos homeopáticos serem estabelecidas remédio a remédio, após ingestão de apenas um de cada vez, isoladamente, pelo experimentador sadio, conforme vimos no artigo anterior. Ora, as substâncias mudam de princípios e de ações quando misturadas, o que é fácil de se constatar no dia-a-dia já que, por exemplo, leite é uma substância, café é outra e café-com-leite uma terceira, de sabores e propriedades diferentes entre si. Portanto, é complicado usar os remédios que um homeopata pluralista receita, variados e repetidos ao longo do dia, mas, não, as doses únicas ou pouco freqüentes do medicamento que o homeopata unicista recomenda.
5º FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO E FARMÁCIA HOMEOPÁTICA SÃO A MESMA COISA.
De jeito nenhum. A Farmácia de Manipulação, tão comum no momento, trabalha com substâncias em bruto, recomendadas pela alopatia. Já a Farmácia Homeopática manipula remédios dinamizados, isto é, diluídos e agitados, segundo princípios próprios à especialidade.
Algumas Farmácias de Manipulação estão, também, se dedicando à Homeopatia e, quando fazem esta opção, precisam de pessoal, maquinaria e instalações específicas para este fim, se pretendem produzir remédios de boa qualidade. Seria mesmo absurdo se, em um mesmo espaço, as farmácias manipulassem substâncias cruas e remédios homeopáticos.
Logo, cuidado com suas escolhas. De nada adianta o esforço do médico em receitar um remédio correto se, na farmácia, botam tudo a perder, por má fé, ignorância ou ganância.