quarta-feira

O Problema dos Anti-inflamatórios

Há algum tempo, a imprensa tem noticiado que diferentes anti-inflamatórios estão provocando distúrbios no aparelho cardiovascular e fígado, sem contar a tradicional gastrite e possíveis reações alérgicas, até choques anafiláticos. Deter-nos-emos nas reações sobre o coração, vasos e sobre o fígado, já que os outros efeitos correspondem à ação tóxica das substâncias em questão. Os cientistas ortodoxos supõe que todos esses efeitos colaterais dos anti-inflamatórios estejam relacionados à toxicidade dos mesmos. Suponho não ser bem assim. Explicando melhor: Desde os tempos de Hahnemann, no início do século XIX, esse médico genial advertia sobre o perigo das supressões, já analisadas em artigo abaixo. Apenas para recordar, lembremos que, para os homeopatas, sempre que se medica uma região qualquer do corpo, apenas ela, sem levar em consideração todo o conjunto psicofísico do paciente, faz-se supressão. Suprimir não é curar, mas, antes, transferir o distúrbio para outra área, geralmente mais nobre, do corpo. Fica, agora, mais simples compreender o que está sendo observado (e sempre aconteceu) com os anti-inflamatórios. Digamos que alguém apresenta uma artrite e o alopata, com boa intenção, dá um anti-inflamatório para suprimir o quadro de dor, calor e rubor articular. A inflamação articular cede mas, adiante, começam os efeitos que chamamos de "metástases mórbidas", isto é, a patologia, antes aparente nas articulações, evolui para uma viscera, mais frequentemente coração e vasos. Trocou-se 6 por 60... O eminente homeopata indiano, Dr. Prafull Vijayakar, com muita propriedade, criou a Teoria da Supressão baseada em camadas que têm origem nos diversos folhetos embrionários dos vertebrados. Já explicamos abaixo essas camadas, porém, recordamos que são sete e que quanto mais altas, mais graves as enfermidades que lhes são próprias. Quando se suprime alguma doença em qualquer dessas camadas, a tendência da enfermidade é subir para uma outra, mais alta e mais nociva à saúde. As artrites correspondem à terceira camada, logo, sua supressão enseja à doença a oportunidade de subir para a quarta camada, na qual estão as visceras, e, naturalmente, o sistema cardiovascular. Portanto, os farmacologistas irão envidar os maiores esforços para tornar menos tóxicas as moléculas dos anti-inflamatórios; elas sempre provocarão tais efeitos sobre o aparelho cardiovascular, e não apenas pela toxicidade natural a esses medicamentos, mas, sim, pela pouco conhecida supressão que elas provocam nas articulações e em outras áreas. Curar-se-á, realmente, uma artrite qualquer, sem provocar metástases mórbidas, quando se atentar para o enfermo todo, inclusive em seu aspecto mental, qual preconizaram Hipócrates e Hahnemann.

domingo

Palavras iniciais


A Homeopatia é uma "nova" maneira de se entender a medicina, o ser humano e as doenças. Apesar de seus mais de dois séculos de criação, ela surgiu como um método racional de tratar as enfermidades, enfatizando o doente, não apenas a doença como faz a alopatia. Já Hipócrates, o "pai" da Medicina, muito antes da era cristã, referia que se deve tratar o enfermo e não a doença por ele apresentada. Portanto, apesar de mal compreendida por alguns setores da sociedade, a Homeopatia alcança os objetivos Hipocráticos e vem se desenvolvendo, em todo o planeta, como uma técnica (ou arte) holística de curar, ao ver o Homem como um conjunto mente-corpo, e, desta forma, entender que jamais se poderá tratar somente a patologia física, sem, antes, avaliar QUEM é aquela pessoa que sofre, caso o médico tencione auxiliar seus clientes em profundidade. Extinguir doenças não significa alcançar, plenamente, o conceito de sanidade emitido pela Organização Mundial de Saúde, pois isto implicaria, também, em bem estar psíquico. Salvar vidas é a grande missão da medicina e a razão da existência do médico, seja ele alopata ou homeopata. A homeopatia acrescenta um "plus" nesta missão médica, pois salva vidas e promove maior paz interior.
Com o intuito de sanar algumas dúvidas de quem se interessa pelo tema, abordarei, neste blog, importantes conceitos da filosofia homeopática, em diferentes artigos de fácil compreensão e que facilitarão o entendimento das diversas etapas pelas quais passam todos os que se submetem a este tratamento. Basta descer ao longo dos artigos para entrar nesse "novo" mundo...

Quando o Passado Explica o Presente...


Final do século XVIII. O mundo civilizado passa pelas grandes mudanças iniciadas no Renascimento...
O obscurantismo medieval dá lugar a novas conquistas, em quase todas as áreas do conhecimento humano, com natural inconformismo pelas idéias antes estabelecidas e as conseqüentes revoluções – o Homem anseia pela liberdade.
Nesse ambiente fervilhante, Cristiano Frederico Samuel Hahnemann, médico germânico nascido em Meissen no dia 11 de abril de 1755, autor, ainda jovem, de obras fundamentais à medicina e à farmácia, sentia-se, todavia, desgostoso. Poliglota que era, e profundamente ético, abandonou sua amada profissão, em 1789, dedicando-se a traduções de livros para o alemão, insatisfeito com os métodos de tratamento recomendados por seus colegas, muito mais danosos do que deixar os enfermos entregues à própria sorte. Sanguessugas, sangrias, cauterizações, purgativos e vomitórios e tônicos e emplastros, refletiam bem o total desconhecimento de anatomia e fisiologia humanas naquele tempo. A ciência médica baseava-se no empirismo e qualquer opinião de algum clínico famoso era aceita como definitiva, mesmo quando absurda.
Hahnemann empobrecera ao deixar de clinicar, a família numerosa atravessava dificuldades, mas ele não cedia à tentação de uma vida mais fácil a partir da mentira e da ignorância que terminavam em morte para os enfermos. Mesmo assim, afastado da clínica médica, mantinha-se atento a qualquer evidência que lhe indicasse um caminho para a verdadeira arte de curar, para uma terapêutica racional com princípios bem estabelecidos e confirmável por qualquer experimentador, em qualquer momento - uma Ciência, enfim. Achou-a, finalmente, em 1790, após penoso período de sua vida, ao traduzir certo trecho da Matéria Médica do médico escocês William Cullen onde era estudada a ação tóxica do quinino (Cinchona officinalis) sobre alguns operários que, ao manipularem esta substância, desenvolveram febres, em tudo semelhantes à malária, principal indicação para o tratamento com quinino. Esta constatação levou Hahnemann a questionar se o efeito antitérmico do quinino não estaria ligado ao seu poder, oposto, de produzir febre quando usado pelo indivíduo sadio. Em outras palavras: ao se verificar os sintomas tóxicos das substâncias minerais, vegetais ou animais sobre a criatura sã, ficaria automaticamente desvendada sua ação terapêutica na pessoa enferma. Nascia um novo ramo da Ciência, alicerçado na experimentação e não em opiniões pessoais, surgia a Homeopatia, a partir de seu primeiro e indestrutível pilar – O Semelhante Cura O Semelhante. Restava a Hahnemann, portanto, comprovar a veracidade desta hipótese e o único experimentador disponível naquele momento era ele mesmo. Sem vacilar, ingeriu uma dose alta, mas não letal, da Cinchona officinalis e aguardou... Logo, começou a apresentar sintomas febris idênticos à malária, principal indicação terapêutica do quinino, como vimos acima. Comprovada estava a lei universal de que o princípio curativo de qualquer substância pode ser desvendado quando se identifica seus sintomas tóxicos no indivíduo sadio.
Hahnemann, apesar da febre periódica e violenta motivada por doses tão altas de quinino, anotou tudo o que sentia, em detalhes, e na seqüência em que apareciam os sintomas, inclusive aqueles de ordem mental. Cessadas as manifestações da Cinchona, e já de posse do conjunto de sintomas e sinais que ela lhe induziu, passou a ingerir doses sub-letais de mais 26 outras substâncias, uma de cada vez, sempre transcrevendo os distúrbios orgânicos e psíquicos por elas provocados e compondo, desta forma, a primeira Matéria Médica Homeopática, publicada em 1805. A seguir, em 1810, após muita reflexão, publicou os princípios teóricos e práticos que regem a Homeopatia até hoje, no livro mestre desta nova ciência – O Organon da Arte de Curar ( inicialmente O Organon da Ciência Médica Racional ) - aperfeiçoado em mais cinco edições subsequentes. Depois, a partir de 1811, desenvolveu sua Matéria Médica Pura, com novas experimentações, tão numerosas e detalhadas que atingiram seis volumes ao longo de dez anos, além do tratado das Moléstias Crônicas, em quatro volumes.
Ao descobrir os princípios da ciência homeopática, Hahnemann voltou à clínica e passou a conseguir curas consideradas “milagrosas” na época. Tais feitos motivaram a conquista de muitos adeptos da nova arte médica, auxiliares valiosos do mestre em várias nações, inclusive no Brasil, mas, igualmente, o ódio daqueles que, arrogantes e preconceituosos, negavam-se sequer a examinar a exatidão das novas leis, combatendo-as e incitando os ignorantes contra Hahnemann, a ponto de apedrejá-lo, qual faziam os perseguidores de cristãos no século I. Coube ao nobre médico procurar um refúgio fora da Alemanha, transferindo-se para Paris, onde continuou a curar seus enfermos até falecer, aos 88 anos, no dia 2 de julho de 1843.
Os métodos empregados desde Hahnemann até hoje, na descoberta dos princípios terapêuticos de qualquer substância, seja ela natural ou produzida em laboratório, conduziram a outros três pilares da Homeopatia, tão fundamentais quanto O Semelhante Cura O Semelhante, ou seja: 1 - Experiência No Homem São 2 – Dose Mínima 3 - Remédio Único
Com a Experiência no Homem São tem-se à possibilidade prática de alcançar o princípio do Semelhante Cura O Semelhante, pois as virtudes curativas dos futuros remédios homeopáticos passam a ser accessíveis através de experimentações no próprio ser humano, único capaz de perceber os sintomas mentais e as sensações físicas secundários ao uso de cada substância pesquisada, dados impossíveis de se obter nos animais habitualmente usados nas pesquisas biológicas. Alguém, menos avisado, poderia definir como anti-ética e mesmo criminosa tal experimentação, já que exporia o Homem a riscos, qual aconteceu com o próprio Hahnemann. Mas não é assim, desde que o pai da Homeopatia, pretendendo diminuir os efeitos tóxicos primários das substâncias em estudo, começou a diluí-las progressivamente, ao mesmo tempo em que submetia estas diluições a vibrações enérgicas (sucussões), alcançando, assim, e por incrível que pareça à ciência oficial, progressivo aumento de seus poderes curativos e, até, a abolição da toxicidade natural que muitas delas possuem. Veremos melhor estes conceitos adiante, ao tratarmos da farmácia homeopática, mas, para maior entendimento, pode-se resumir a Experiência No Homem São da seguinte forma: Um pesquisador deseja saber as virtudes curativas de uma determinada substância, por exemplo, o veneno de algum animal peçonhento. Como é muito arriscado ingerir qualquer veneno, este experimentador submeterá a substância em questão às diluições e sucussões preconizadas por Hahnemann, elevando-o, em geral, à 30ª potência ou 30CH (Centesimal Hahnemanniana). Nesta grande diluição já não existe molécula alguma do veneno presente nas soluções, embora estas conservem o poder de induzir sintomas nos experimentadores (para espanto da ciência oficial), quando ingeridas repetidamente durante dias. Os sinais e sintomas provocados pelo veneno são, então, anotados e agrupados, sob o nome científico, sempre em latim, do animal (ou vegetal, ou mineral) de origem, por exemplo, Tarentula hispanica (ou veneno da aranha Tarentula da Espanha), transformando-se, assim, em mais um remédio para uso homeopático. Quando o médico encontra, em seu trabalho diário, algum paciente que tenha os sintomas mentais e/ou físicos relatados pelos experimentadores do veneno da Tarentula, basta dá-lo a este paciente, em potências (diluições + sucussões) maiores ou menores, dependendo do caso, para observar a cura do mesmo, ou o alívio de seu sofrimento se for uma doença já incurável. Por isto se diz que o semelhante cura o semelhante.
Desta forma, as diluições progressivas, quintessenciando a matéria bruta, levou a outro pilar da ciência homeopática, que é a Dose Mínima. Conceito importantíssimo, pois tornou confortável o tratamento já que minimiza, ao máximo, ou até anula, os efeitos primários, ou seja, a toxicidade inerente a muitas das substâncias testadas, ao mesmo tempo em que estimula as potencialidades terapêuticas das mesmas e até permite uma ação por vezes extremamente poderosa a compostos que nenhuma atividade demonstravam no ser humano quando em estado bruto. Assim é o caso do carvão vegetal, entre tantos outros, que, quando muito, pode ser útil em formações exageradas de gases nos intestinos, mas se transforma em Carbo vegetabilis, após repetidas diluições e sucussões, indicado em casos graves de falência circulatória e baixa oxigenação dos tecidos.
Para finalizar, abordemos o último dos quatro pilares da ciência homeopática, qual seja, o Remédio Único.
Em toda a história da Homeopatia, as experimentações no homem são foram conduzidas substância após substância, sempre uma de cada vez, como manda a lógica. Mesmo nos dias de hoje, nos laboratórios de Farmacologia, nenhum pesquisador administra às cobaias animais mais de uma substância de cada vez, já que, se assim procedesse, correria o risco de perder-se nos estudos que faz, sem saber onde está a origem dos efeitos observados. Assim, também, na pesquisa homeopática, pois, mesmo quando se quer investigar a ação de alguns compostos, é indispensável associar seus componentes ANTES de fornece-los aos voluntários para ingestão, pois os sintomas que estes compostos provocarão são inerentes à mistura dos componentes. Hahnemann fez isto algumas vezes, quando ainda experimentava em si mesmo e nos colaboradores, surgindo remédios como Causticum e outros. Infelizmente existem, desde algum tempo depois da criação dos princípios homeopáticos, certos homeopatas que voluntariamente ignoram a necessidade do remédio único e receitam dois, três ou mais remédios para um mesmo paciente, um para cada sintoma ou sinal, seja físico ou mental. Ignoro os motivos pelos quais estes colegas procedem assim já que um único remédio, bem indicado, levando em conta não apenas um sintoma ou outro, mas a totalidade do enfermo, pode perfeitamente curar, e o faz amiúde em mãos habilidosas. Além disto, quando se medica para sintomas isolados, corre-se o risco das temidas supressão e metástase mórbida, conforme veremos adiante.
Assim, estão definidos os quatro pilares que sustentam, firmemente, a prática da Homeopatia – O Semelhante Cura O Semelhante, Experiência No Homem São, Dose Mínima e Remédio Único.
Sobre esta base sólida, Hahnemann, anos mais tarde, assentou a pedra final da obra homeopática, ao descobrir o importantíssimo conceito dos Miasmas, até hoje mal compreendido por alguns homeopatas, referido em artigo mais adiante neste blog, quando defini, ainda que brevemente, a Psora, a Sicose e a Sífilis.
Fica, desta forma, demonstrado que o exercício da homeopatia está ligado à experimentação científica e Hahnemann foi o primeiro médico a elaborar uma ciência experimental, muito antes de Pasteur, Fleming e outros respeitáveis cientistas darem início à nova e promissora fase da antiga medicina que, graças a Deus, abandonou as purgas pelos antibióticos, salvando inúmeras vidas.
Nós, homeopatas, somos, antes de tudo, médicos e nosso dever é salvar vidas. Apenas optamos por uma visão diferente da saúde e da doença, não mística, como pensam alguns, mas científica, amplamente comprovada através das curas diárias que gerações de clínicos conseguiram ao longo de mais de dois séculos. Nega-las, sem cuidadoso exame, jamais lendo uma única linha de nossos livros ou fazendo-nos ainda que breve visita aos consultórios, é atitude arrogante e, sobretudo, contradiz o espírito científico de que esses que assim agem tanto se orgulham.

sábado

O que é um Remédio Homeopático?

Já examinamos, ainda que muito superficialmente, em artigo anterior, o que vem a ser um remédio homeopático. Esse conhecimento é importante pois conduz ao entendimento de como usá-lo e irei, por isto, detalhar o assunto a seguir.
Em primeiro lugar relembremos que Hahnemann começou trabalhando com a matéria bruta, como se apresenta na Natureza, depois de testar em si mesmo aqueles produtos tóxicos para, assim, revelar o poder curativo dessas substâncias. Logo, porém, percebeu que, embora curasse os enfermos usando tais remédios tão materiais, antes de começarem as melhoras surgiam-lhes reações algumas vezes violentas e indesejáveis. Assim, resolveu diluir seus remédios para tentar minimizar tamanhas reações e, quanto mais os diluía, tanto menor eram estas reações e tanto maior os poderes curativos dos mesmos, efeito misterioso até o advento da Mecânica Quântica, na primeira metade do século XX, quando a Ciência começou a possuir instrumentos teóricos capazes de explicá-lo. Hahnemann, então, padronizou tais diluições, demonstrando mais uma vez seu espírito científico pois, em Ciência, se não padronizamos os métodos, não uniformizamos os resultados finais. Aplicou ele, com perspicácia, o seguinte método:
Quando a substância tem origem vegetal ou animal e é solúvel em água e álcool:
Produz-se uma tintura alcoólica por extração do suco de uma planta suculenta ou por trituração mecânica do vegetal menos rico em água ou animal em estudo, seguindo-se imersão do triturado em solução de álcool etílico a 95º. Depois de período mais ou menos longo de repouso e decantação, a solução alcoólica sem resíduos, mas já impregnada dos extratos vegetais ou animais, constitui a chamada Tintura-Mãe (abreviadamente, TM), possível de ser estocada durante muito tempo sem decomposição.
Quando a substância tem origem mineral e é solúvel em água e álcool:
Toma-se uma parte da substância e dilui-se em 99 partes de água destilada. Segue-se, depois, o método adiante estudado.
Quando a substância, mineral, vegetal ou animal, sólida ou líquida, mostra-se insolúvel em água ou álcool ou quando é estocada sob a forma de pós muito secos:
Mistura-se a substância com lactose e tritura-se com um pequeno pilão durante aproximadamente três horas. Então, retira-se uma parte do produto triturado com lactose e segue-se o processo geral descrito abaixo.
Após esta etapa inicial, separa-se uma parte da tintura-mãe, ou da trituração com lactose ou da solução mineral em água destilada e acrescenta-a a outras noventa e nove partes de solução alcoólica (20º a 70º). Submete-se, então, o recipiente com essa mistura, a cem “batidas” contra um objeto resistente (sucussões), etapa fundamental do método, pois, além de promover uma mistura mais homogênea, permite que, como sabemos hoje, o soluto “insira” suas características, únicas, no solvente, de tal forma que a solução alcoólica assim tratada passa a mostrar um efeito Raman-Laser diferente do que mostrava antes de sofrer as sucussões junto com as substâncias próprias ao vegetal, animal ou mineral em preparação. Após as cem sucussões, repete a transferência de uma parte desta solução dinamizada para outras noventa e nove partes de solução alcoólica, tornando a submete-la a cem sucussões e assim por diante, quantas vezes se pretenda. Cada conjunto de diluição e sucussão denomina-se dinamização e dá-se, a elas, um número sucessivo: à primeira, o número 1, à segunda, o número 2, à terceira, o número 3 etc. Como Hahnemann diluía na proporção de 1:100, esta escala recebeu o nome de Centesimal (C) ou Centesimal Hahnemanniana (CH), em uso até nossos dias. Portanto, qualquer remédio deve ter especificado, após seu nome, a dinamização à qual foi elevado. Por exemplo: Natrum muriaticum 5CH indica que o Cloreto de sódio (Natrum muriaticum) está dinamizado cinco vezes na escala centesimal Hahnemanniana. Nos primórdios da Homeopatia chegava-se, no máximo, à trigésima dinamização centesimal (30CH), pois, entre outros fatores, eram dinamizadas manualmente. Hoje, com máquinas apropriadas, a farmácia homeopática consegue atingir dinamizações tão altas quanto a centésima milionésima (100 MM), porém, nestes casos, substitui-se o CH pelo FC, abreviatura de Fluxo Contínuo, sistema pelo qual operam tais máquinas. Assim, temos, como ilustração: Natrum muriaticum 100MMFC (cem milhões de diluições 1:100 e dinamizações em fluxo contínuo) ou, em algum nível mais baixo, Natrum muriaticum 10MFC (dez mil diluições 1:100 e dinamizações em fluxo contínuo).
Além da escala centesimal, Hahnemann, já no fim de sua vida, desenvolveu a escala Cinquenta-Milesimal (LM), assim denominada devido a várias peculiaridades técnicas, em especial por não estar mais presente a diluição 1:100 mas, agora, 1:50.000, isto é, cada diluição é 50.000 vezes maior do que a anterior. Além disto, na escala Cinqüenta-Milesimal, Hahnemann enfatizou a importância das triturações de todos os remédios, antes de submete-los às diluições já descritas. Hoje sabemos que estas triturações retiram muito mais componentes dos vegetais e animais utilizados como medicamentos, quando comparadas à simples extração alcoólica das tinturas mães.
Em nosso país adotamos, também, uma escala diferente, criada por Hering, eminente homeopata alemão radicado nos Estados Unidos da América durante o século XIX, denominada Decimal (D ou X), pois cada diluição é dez vezes maior que a antecessora (1:10). Outras escalas existem mas são muito pouco utilizadas em nosso meio.
Seja qual for a escala adotada, segundo a situação clínica do momento e, ainda, por conta da preferência do médico, o princípio é sempre o mesmo: diluições e sucussões alternadas ou triturações são elementos fundamentais na preparação de um remédio homeopático já que, desta forma, o princípio curativo do mineral, da planta ou do animal é, de alguma maneira, “retirado” da matéria bruta e “transferido” para a solução hidro-alcoólica ou para a lactose que, ingeridos, “contaminam” o enfermo com seus “princípios”, curando-o se bem indicado, adoecendo-o se mal indicado.
O método acima permite, ainda, completa liberdade de escolha ao pesquisador já que ele poderá experimentar qualquer substância, seja natural ou artificial, na busca de um novo remédio homeopático, bastando, para isto, que disponha de um número razoável de voluntários para ingerir a substância e escrever os sintomas conseqüentes. Lembremos que, estando diluídos até níveis muito altos, os compostos químicos assim testados jamais serão letais, fator este que impossibilitaria experimentações humanas. Assim procedendo, Hahnemann e seguidores têm, até nossos dias, introduzido centenas de remédios no arsenal homeopático. Os melhores estudados, com sintomas físicos e psíquicos muito bem determinados, são denominados policrestos e seu número está em expansão devido a experimentações mais rigorosas de médicos contemporâneos. Todavia, até os remédios chamados pequenos, assim identificados porque ou foram mal pesquisados, ou não produzem grandes respostas no organismo humano ou, ainda, tenham efeito restrito a determinado órgão ou sistema, são muito valiosos na prática diária, especialmente nas enfermidades agudas. Ao conjunto de sinais e sintomas correspondentes a cada remédio e reunidos em livros dá-se o nome de Matéria Médica e seu conhecimento é indispensável na formação de um bom homeopata. Contudo, como a massa de informações das Matérias Médicas é gigantesca, torna-se impossível memorizá-las todas, razão porque surgiram, desde os primórdios desta ciência médica, catálogos onde cada sintoma ou sinal presente nas Matérias Médicas é referido tendo, a seguir, a lista dos remédios que o produzem e, consequentemente, curam tal sintoma ou sinal. A esses “catálogos” denominamos Repertórios cuja organização é, em essência, oposta à das Matérias Médicas. Por exemplo: Um sintoma mental como temor de alturas está coberto, no repertório do Dr. James Tyler Kent, eminente homeopata norte-americano falecido em 1916, pelos remédios Argentum nitricum, Pulsatilla, Staphisagria e Sulphur. Sempre que tal sintoma for bem forte, marcante, no psiquismo de alguém, a escolha do remédio ideal para esta pessoa recairá em UM dos quatro acima referidos, de acordo com os conhecimentos do médico e o conjunto de sintomas do paciente.
Enfatizo que qualquer substância pode se tornar um remédio homeopático se for dinamizada e testada de acordo com os métodos Hahnemannianos. É possível, mesmo, se alguém o desejar, transformar, por exemplo, um pedaço de papel em um remédio, por mais incrível que isto pareça. Poder-se-ia alegar que o papel, nesse caso, é inócuo à saúde, não faz bem nem mal, e seria tolice imaginá-lo como um remédio. Porém, mesmo elementos inofensivos ao Homem se transformam, muitas vezes, quando dinamizados, em remédios potentíssimos. Sobre isto já fiz referência, ao falar, em artigo anterior sobre a história da Homeopatia, no carvão vegetal, esse mesmo carvão que usamos em nossas churrasqueiras e que pode ser ingerido à vontade sem provocar qualquer resposta além de diminuir os gases intestinais, mas, do qual, as dinamizações sucessivas extraem propriedades, digamos, ocultas na matéria bruta e lhe eleva à categoria de remédio próprio aos estados agônicos, nas vizinhanças da morte. Igualmente, também, com o sal de cozinha (Natrum muriaticum) que comemos diariamente nos alimentos, ou com a areia de nossas praias (Silicea), ou com o pó das conchas de ostras (Calcarea ostrearum) e assim por diante, todos remédios de primeira linha para a ciência homeopática, por isto considerada como mística e inofensiva pelos ignorantes, diplomados em universidades ou não. Entretanto, além de usarmos, como remédios, elementos da Natureza aparentemente inativos no ser humano, temos venenos violentos em nosso arsenal terapêutico tal qual o arsênico (Arsenicum album), o mercúrio (Mercurius solubilis e outros), as peçonhas de várias cobras e aranhas (Lachesis, Vipera, Crotalus, Tarentula, Latrodectus etc), cuja ação tóxica, mesmo letal, foi praticamente abolida devido às diluições altíssimas com que trabalhamos, ainda mais a partir da décima-quinta dinamização, aproximadamente, quando desaparece a matéria e resta apenas a energia que lhe é própria, potente o suficiente para agir, cada vez mais profundamente, até, pelo menos, a centésima-milionésima potência.
Uma vez estando devidamente dinamizados, nas diversas potências, os remédios homeopáticos são estocados nas farmácias, geralmente em soluções alcoólicas. Ao fazermos nossos pedidos podemos optar por algumas apresentações, sendo, as mais comuns, gotas, glóbulos, tabletes ou “papéis”. No caso das gotas, o remédio é vendido diluído em álcool etílico entre 20% a 70%, em vidros com conta-gotas. Os glóbulos são pequenas esferas de açúcar (sacarose), os tabletes são cilindros de lactose, e os “papéis” têm esta denominação por serem invólucros de papel contendo lactose em pó no seu interior. A esses glóbulos, tabletes ou lactose em pó (papéis) o farmacêutico acrescenta gotas do remédio solicitado e, uma vez secos, embala-os em vidros ou nos envelopes de papel.
Objetivando universalizar a receita homeopática, todos os nossos remédios são conhecidos por seu nome científico ou latino, sem marcas comerciais ou fantasias. Desta forma, tanto no Brasil como em qualquer outro país, o receituário será sempre o mesmo, independente do idioma oficial de uma nação.

sexta-feira

Mitos e lendas sobre a Homeopatia

Como a Homeopatia é uma especialidade médica pouco conhecida em sua profundidade e tradicionalmente usada nas famílias, para tratamento doméstico, receitada pelas vovós, surgiram versões distorcidas, populares, do que vem a ser esta especialidade. Tais equívocos foram pouco a pouco sendo incorporados à especialidade, tanto por intermédio dos leigos quanto entre alguns médicos alopatas, e viraram tradição. Lamentavelmente, ainda hoje os homeopatas têm de lidar com mais esta dificuldade em sua especialidade. Com o fim de desmistificar o que dizem sobre a ciência homeopática, relaciono, a seguir, os mitos e lendas que persistem:
1º A HOMEOPATIA É LENTA EM SUA AÇÃO.
Creio que esta idéia surgiu exatamente por causa do receituário homeopático popular. As pessoas, no século XIX e ainda em nossos dias, sempre tiveram a tendência à auto-medicação ou, o que dá no mesmo, ao tratamento doméstico das enfermidades, reservando a presença do médico para os casos mais graves. Nossas avós escolheram o tratamento homeopático por causa de sua aparente ausência de efeitos colaterais imediatos, quando comparado com as drogas mais agressivas da alopatia. Algumas farmácias homeopáticas antigas, vendo uma fonte de lucro nas receitas populares, trataram de incentiva-la, montando, inclusive, para venda, caixinhas dos remédios mais comuns e “dicas” de suas principais indicações. Sem dúvida, essas caixinhas eram úteis em um primeiro momento, quando o remédio atuava. Porém, por conta da multiplicidade de efeitos dos remédios homeopáticos, em vários órgãos e sistemas, e das peculiaridades necessárias para receita-los bem, as boas velhinhas erravam muito em suas prescrições, pelos motivos expostos abaixo:
Na Homeopatia, temos o remédio perfeita e individualmente indicado no tratamento e que cura desde a mente até o corpo – o simillimum. Se a indicação do remédio não o relaciona exatamente com o doente, qual chave na fechadura, a cura não se apresenta, embora possa haver uma certa melhora da doença – temos aí o remédio que chamamos de similar. Quando o medicamento está tão mal indicado que em nada se parece com as queixas dos enfermos, eles só pioram ou, no mínimo, nenhum distúrbio perceptível acontece.
Nos pacientes que tomam seus remédios perfeitamente indicados, a cura é muito rápida, se houver, no doente, boa vitalidade. Existem casos, porém, em que a enfermidade está há anos infiltrando no organismo das pessoas, ajudada pelas supressões (vide artigo específico neste blog), supressões estas que são feitas por conta própria e com a ajuda involuntária dos alopatas. Seria impossível eliminar as doenças, assim tão enraizadas, de um momento para o outro, e faz-se necessário um tratamento mais ou menos prolongado para desalojar o mal. Aí está um dos pontos mais difíceis de serem entendidos pelos leigos, acostumados que estão com as receitas alopáticas, cujo objetivo é combater UMA doença específica, não à totalidade dos males de algum paciente. Podemos comparar a dois operários, um muito lento e preguiçoso e outro bastante ágil e atuante. Digamos que a escala de serviços colocou o operário preguiçoso para construir uma pequena parede de tijolos, com um metro de extensão. Já o operário ativo foi posto para erguer outra parede de tijolos, com 50 metros de extensão. Apesar das características opostas dos dois trabalhadores, é bem provável que o preguiçoso termine primeiro sua obrigação. Em um olhar superficial, o bom operário seria tido como lento pois, ao final do dia, ainda não concluira sua parede, enquanto seu colega já estava de banho tomado e cartão de ponto na mão, doido para sair correndo para casa.
Portanto, as prescrições homeopáticas erradas de nossas vovós e, o que é pior, de muitos médicos mal-preparados, jamais curam, quando muito propiciam pequenas melhoras e as doenças demoram um longo período ativas antes de serem suprimidas. Além disto, as receitas corretas, como referi acima, feitas por bons homeopatas, vão fundo nos enfermos e, aí, passam a debelar os males presentes, etapa por etapa, até chegarem à cura desejada, necessitando, para isto, algum tempo, tão mais longo quanto mais antiga for a doença. E, ainda mais, nesse processo de cura, pode-se presenciar pequenas reações, chamadas de agravações homeopáticas, além de breves passagens dos doentes pelos antigos males que tiveram na vida (Lei de Hering), situações estas importantíssimas para a cura e que são desastrosamente medicadas por mãos inábeis. Não é de admirar, por tudo isto, que um tempo mais dilatado, às vezes, será necessário para se curar alguém, mas curar realmente, em sua totalidade, não apenas fazer uma ou outra doença sumir. Entretanto, em se tratando de doenças agudas, como gripes, infecções urinárias, pneumonias etc, o tratamento homeopático mostra toda a sua velocidade de ação, às vezes superior aos antibióticos e antinflamatórios tão endeusados em nossos dias.
Assim, nos casos crônicos, não é a Homeopatia que pode ser acusada de lenta mas, sim, é a doença que está profundamente instalada no organismo, manifestando-se ora com uma denominação, ora com outra e sendo, no fundo, uma só enfermidade, conforme assinalei em artigos adiante.

2º A HOMEOPATIA É ÚTIL PARA ALGUMAS DOENÇAS, MAS É FRACA PARA OUTRAS.
Quem diz isso mostra bem o seu total desconhecimento do assunto. Já soube de alguns alopatas que assim “orientaram” seus pacientes: “Para alergia a homeopatia serve, mas nem pense em tratar de otites com um homeopata. Só vai continuar piorando”. Falam desta forma e nunca leram um compêndio homeopático ou observaram, com isenção, os resultados obtidos. É assustador... Em meus anos de prática homeopática já tratei de enfermidades as mais variadas, com sucesso em grande parte delas, graças a Deus, e esta casuística não é exclusividade minha, pode ser dividida com a maioria dos homeopatas de todo o planeta.

3º A HOMEOPATIA É UM TRATAMENTO À BASE DE PLANTAS.
Errado. Usam-se os três reinos da Natureza na elaboração dos remédios homeopáticos – mineral, vegetal e animal (vide artigo adiante). Exemplos: Calcarea sulphurica – mineral, Lycopodium – vegetal, Lachesis – animal.
A especialidade médica que utiliza somente plantas como remédios denomina-se Fitoterapia e é um ramo da alopatia, nada tem com a homeopatia. Chás e tinturas não são remédios homeopáticos.

4º A HOMEOPATIA É COMPLICADA DE USAR PORQUE SE FAZ NECESSÁRIO TOMAR OS REMÉDIOS MUITAS VEZES AO DIA.
A que Homeopatia alguém que assim fala está se referindo?
Infelizmente, existem duas Homeopatias: a pluralista e a unicista. A pluralista receita mais de um remédio para cada enfermo, enquanto a unicista utiliza somente um remédio, em doses eventuais.
Não deveria haver esta divisão pois a filosofia homeopática é muito clara em seus princípios, mas o ser humano tem sintonias tão fortes com algumas tendências, mesmo dentro da Ciência, que fica difícil mudar seus pontos de vista.
É sabido a irritação de Hahnemann com os homeopatas que praticavam o pluralismo, já naqueles tempos recuados. E com razões lógicas para isto, entre outros motivos pelo fato das ações dos medicamentos homeopáticos serem estabelecidas remédio a remédio, após ingestão de apenas um de cada vez, isoladamente, pelo experimentador sadio, conforme vimos no artigo anterior. Ora, as substâncias mudam de princípios e de ações quando misturadas, o que é fácil de se constatar no dia-a-dia já que, por exemplo, leite é uma substância, café é outra e café-com-leite uma terceira, de sabores e propriedades diferentes entre si. Portanto, é complicado usar os remédios que um homeopata pluralista receita, variados e repetidos ao longo do dia, mas, não, as doses únicas ou pouco freqüentes do medicamento que o homeopata unicista recomenda.

5º FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO E FARMÁCIA HOMEOPÁTICA SÃO A MESMA COISA.
De jeito nenhum. A Farmácia de Manipulação, tão comum no momento, trabalha com substâncias em bruto, recomendadas pela alopatia. Já a Farmácia Homeopática manipula remédios dinamizados, isto é, diluídos e agitados, segundo princípios próprios à especialidade.
Algumas Farmácias de Manipulação estão, também, se dedicando à Homeopatia e, quando fazem esta opção, precisam de pessoal, maquinaria e instalações específicas para este fim, se pretendem produzir remédios de boa qualidade. Seria mesmo absurdo se, em um mesmo espaço, as farmácias manipulassem substâncias cruas e remédios homeopáticos.
Logo, cuidado com suas escolhas. De nada adianta o esforço do médico em receitar um remédio correto se, na farmácia, botam tudo a perder, por má fé, ignorância ou ganância.


domingo

Homeopatia X Alopatia

O título acima expressa algo de indesejável na prática médica, qual seja, o embate de uma escola contra outra, quando ambas querem alcançar o mesmo fim, que é proporcionar alívio ao sofrimento humano, mas ainda vivemos em um mundo de diferenças. Portanto, vamos esclarecer quais são essas diferenças entre os pensamentos homeopático e alopático, que em nada tiram, de ambas, os méritos pelas inúmeras vidas salvas durante os últimos séculos.
Em primeiro lugar, é bom ficar entendido que o ensino nas Faculdades de Medicina tem sido omisso há muitos anos, embora já se perceba, no horizonte, algumas luzes novas, por iniciativa de mentes mais abertas que não vêem como única verdade aquilo em que muitos acreditam. Assim, pouco a pouco, a Homeopatia vem sendo introduzida na grade curricular dessas faculdades que, dessa maneira, informam melhor seus alunos. No final dos anos 60 e início dos anos 70, quando eu fazia minha formação médica básica, um médico que almejasse maior prestígio jamais pensaria em ser homeopata, o que aumentava a coragem daqueles que se opunham a estas idéias distorcidas. Ninguém falava em homeopatia na maioria das universidades. Hoje, passados mais de trinta anos, os homeopatas ainda não são bem aceitos no meio acadêmico, embora já despontem, aqui e ali, escolas médicas que admitem o ensino do b-a-bá homeopático a seus alunos, exceção feita, evidentemente, àquelas que sempre formaram homeopatas no Brasil, entre elas a Uni-Rio, onde funciona o Instituto Hahnemanniano do Brasil, no Rio de Janeiro, verdadeira célula de formação e divulgação homeopática em nosso meio, berço de gigantes da homeopatia brasileira. Portanto, salvo umas ainda poucas exceções, as faculdades de medicina oferecem a seus alunos a visão de que além da alopatia nada existe, o que é algo indesejável. Qual a função de uma escola senão formar indivíduos capacitados para as diversas áreas do pensamento humano? Cabe às escolas informar, e não deformar seus alunos fazendo deles imagem e semelhança dos mestres. A Homeopatia e a Acupuntura são especialidades médicas oficialmente reconhecidas pelo Estado. Então, porque não oferece-las aos alunos para que eles, e somente eles, resolvam o caminho a seguir em suas vidas? Às mentes em desenvolvimento de moças e rapazes com dezoito, dezenove, vinte anos de idade, ávidas de informações, é ofertada unicamente a alopatia. E ponto final. Não é de admirar que, mais tarde, já diplomados em medicina, se não tiverem tempo ou vontade de se especializarem em outra área, acabem engrossando o coro dos detratores da homeopatia, que assim agem muito mais por ignorância e medo ao novo do que por real fervor ao ideal alopático. Falo sobre este assunto para que fique bem clara a primeira razão para as diferenças entre adeptos desta e daquela linha de pensamento. Uma grande e evitável tolice...
A seguir, vamos verificar o cerne da distinção entre alopatia e homeopatia.
Os seres vivos pluricelulares são compostos de número variável de células, no núcleo das quais se encontra o DNA, uma molécula que rege todo o funcionamento das mesmas e transmite, às células filhas, nas divisões, moléculas de DNA idênticas a ela mesma, permitindo a continuidade das funções orgânicas normais, por um tempo de vida maior ou menor. Qualquer ser vivo está exposto, também, a agressões numerosas do meio ambiente, tais como bactérias, vírus e agentes físicos ou químicos lá presentes. Este conjunto de fatores seria, segundo a Ciência oficial, responsável por distúrbios conhecidos como doenças, agudas ou crônicas, que tanto sofrimento nos causam. Porém, enquanto o alopata pára por aí, supondo que quando alguém adoece de um órgão, o problema, em geral, está restrito àquele órgão e o resto do organismo apenas coopera ou não para tal enfermidade, o homeopata vai além. Tomemos uma pessoa com um eczema de pele. O dermatologista saberá diagnosticar como ninguém a doença e sua “causa” recairia, no entender desse colega, apenas em alguma alergia a agentes do meio ou, então, em uma atopia, cuja origem estaria na própria predisposição alérgica daquela pessoa. O tratamento será baseado em um imunossupressor, como a cortisona, ingerida ou aplicada no local do eczema, associado ou não a tratamento com vacinas para que o organismo deixe de responder tão intensamente aos estímulos externos. Quando muito, e saindo de sua área de atuação, este especialista poderá desconfiar que a causa do eczema estará ligada a algum problema emocional, algum estresse enfrentado pelo doente, recomendando-lhe psicoterapia e calmantes ou anti-depressivos, cujo centro de ação é o cérebro, agora já na esfera do psiquiatra. Resumindo: Para a alopatia a doença é, sempre, algo material, originada no corpo e tratada por intervenções no próprio corpo. Até mesmo a consciência, este princípio que distingue o Homem dos outros seres na Terra, para o alopata (e para a Ciência oficial que lhe deu origem), nada mais é do que conjunto de interações moleculares nas células nervosas do cérebro, a secretar pensamentos assim como o fígado secreta bile. O Homem, desta maneira, seria um simples produto de suas próprias células. Veio do pó e ao pó retornará...
Hahnemann, há mais de duzentos anos, não entendia a vida desta forma, e não somente por pouco saber da fisiologia humana, no século XVIII, já que seus colegas de então tratavam os enfermos, embora de maneira muito tosca, baseados nos mesmos princípios acima expostos. Hahnemann era adepto do vitalismo, ao perceber que o ser humano não é máquina orgânica mas, sim, um ser pensante que utiliza sua máquina orgânica atual, e que tudo no universo obedece a uma hierarquia, em extensa cadeia na qual aquilo que é mais importante para a vida se torna superior ao que é menos importante para a vida. Isto é tão óbvio e corriqueiro que a ninguém, em pleno juízo, seria dado salvar quem se afoga tomando-o pelos pés. No caso, os pulmões ocupam hierarquia mais alta. O próprio corpo trabalha baseado em hierarquias e restringe a circulação das outras vísceras menos importantes, nas perdas maciças de sangue, para manter o cérebro vivo. Assim, também, no Homem, há algo pensante que é maior que o corpo e, para ser até maior que o cérebro, uma vez que não entendemos o pensamento como função nervosa, o ser pensante não pode estar no mesmo campo vibratório dos neurônios ou de seu DNA, ou seja, ele está além da matéria. Pode-se batiza-lo com qualquer nome: alma, espírito, si oculto, eu profundo, atma etc. Ele sou eu, Eles somos nós. Ele é a “imagem e semelhança de Deus”, ouro imerso “na ganga impura”, como dizia o poeta, por razões que só ao Criador compete conhecer. Entre Ele e a consciência superficial que ainda somos, camadas de energia cada vez mais densas se acumulam, até chegar à matéria de nossos corpos. Neste vasto campo de energias intermediárias é que reside, segundo meus pontos de vista, a causa profunda de todas as enfermidades, a repercutirem no corpo como as doenças A, B ou C. Estou indo além do que Hahnemann aparentemente conhecia, para não perder o fio do raciocínio, mas, creio, por tudo que este alemão genial escreveu, que ele intuía tais princípios milenares, encontrados no Mahabarata e outros escritos filosóficos da Antigüidade, aperfeiçoados por gerações de pensadores mais recentes. Pois bem, voltando à verdadeira sede das doenças, imersa em campos energéticos íntimos de cada criatura, Hahnemann chamou-a de “hidra das mil cabeças”. Um só corpo, diversas cabeças, semelhante à Hidra de Lerna, serpente mitológica que possuia sete cabeças e, se uma delas fosse cortada, logo cresceria de novo. Por isto Hahnemann dizia que ao cortarmos algumas cabeças desta hidra não a mataremos, mas a enfureceremos ainda mais. É necessário acertar-lhe o centro, o coração. As cabeças da hidra representam as muitas doenças catalogadas nos compêndios médicos; seu coração, a origem única dos males, para além do corpo denso.
Embora o exposto acima pareça um conceito sem qualquer comprovação prática, a figura da hidra faz parte do dia-a-dia do homeopata. Melhor explicando e voltando ao exemplo do eczema linhas acima: Aquele doente, após ver desaparecer seu eczema de pele pelos métodos alopáticos já referidos, começa a perceber, algum tempo depois, que está sofrendo, por exemplo, de dores reumáticas. Caso voltasse ao dermatologista que antes lhe tratou, ouviria deste profissional que, agora, a dermatologia não lhe seria mais útil, pois necessitava de um reumatologista. Este especialista, então, lhe receitaria antinflamatórios ou imunossupressores, dependendo do caso, para aliviar-lhe a inflamação e a dor. Se o reumatismo desaparecesse, para justificada satisfação do enfermo e de seu médico, poderíamos vê-lo, mais tarde, sofrendo de hipertensão arterial, diabetes mellitus ou, digamos, alguma afecção autoimune da tireóide, e assim por diante.
O hipotético caso clínico acima demonstra que o grande problema da alopatia é não perceber um traço de união entre aquele eczema e o diabetes que anos depois surgiu no pobre homem. Para o alopata, são fenômenos independentes, cada um merecedor de seu tratamento específico. O homeopata discorda e demonstra o equívoco na prática, pois se medicasse este mesmo paciente diabético com o remédio homeopático cuja experimentação no homem são revelasse sintomas mentais e físicos semelhantes aos dele (o semelhante cura o semelhante), não atentando apenas para o diabetes atual, veria, encantado, caso o doente ainda fosse curável, que, ao mesmo tempo em que ele se tornava mais calmo e harmonioso, seus níveis de glicose no sangue iriam diminuindo, necessitando cada vez menos insulina ou similar, e, algum tempo depois, ficaria curado do diabetes enquanto lhe reaparecia o antigo reumatismo. Continuando na mesma linha de tratamento, o reumatismo cederia para ressurgir, na pele, o eczema de anos antes. Ao desaparecer o eczema teríamos, aí sim, o enfermo definitivamente curado. Não é esta uma demonstração prática daquilo que Hahnemann escreveu, já que a enfermidade percorre um caminho inverso ao de seu aparecimento, estabelecendo, com clareza, o fio que conduz o eczema ao diabetes ou uma doença superficial qualquer a outra mais profunda? Pode-se negar a veracidade de experiências tais, comprovadas tantas e tantas vezes em algumas universidades e nos consultórios homeopáticos de todo o mundo? Um fenômeno que pode ser reproduzido amiúde torna-se irrefutável, transforma-se em verdade científica. Qualquer argumento em contrário compromete a inteligência de quem o faz. Pode-se reinvestigá-lo, pode-se aperfeiçoa-lo, mas, nunca, desmenti-lo. Assim é a Ciência.
Agora, posso resumir as principais distinções entre Homeopatia e Alopatia:

1º A Homeopatia utiliza remédios muito diluídos, e também dinamizados por meio de agitações vigorosas, o que lhes permite ações muito mais profundas nos seres vivos do que se esperaria usando apenas a matéria bruta como faz a Alopatia.

2º A Homeopatia trata o enfermo como um todo, da mente ao corpo, nesta seqüência. A Alopatia trata a doença isoladamente.

3º A Homeopatia demonstra, na prática, que o desaparecimento de uma doença pelo método alopático, ou por meio de remédios homeopáticos mal empregados, não significa cura, pois, quando usa o remédio homeopático melhor indicado, considerando todo o doente e não apenas uma parte dele, reaparecem sintomas e sinais brandos das doenças que antes haviam sido suprimidas e não curadas, em ordem inversa ao de seu surgimento, do mais recente para a mais antigo (Lei de Hering), até que a primeira dessas doenças seja finalmente debelada, quando, e só então, pode-se considerar o indivíduo curado.

4º Mesmo nos pacientes em que a Lei de Hering não se manifeste, há acentuada melhora de seu psiquismo e cura de muitas de suas enfermidades, desde que esteja sob a ação do remédio homeopático escolhido segundo o princípio da totalidade de sintomas, da mente ao corpo. A clínica alopática não considera o estado mental dos doentes para receitar remédios, focalizada que está apenas no corpo e suas disfunções. Os alopatas especializados nas doenças do cérebro (neurologistas e psiquiatras) atentam, sim, para o estado mental de seus pacientes, mas, ao considerarem a mente uma função do cérebro, incorrem no mesmo equívoco da alopatia geral, pretendendo curar as anormalidades mentais ou nervosas com remédios de ação local no neurônio e células correlatas. O resultado será sempre supressão, que alivia, reduz sofrimentos mas não oferece a cura real das enfermidades.

5º Toda supressão de sintomas representa um risco para a saúde futura dos enfermos, já que condiciona o surgimento de doenças mais sérias.

Termino este artigo lembrando o que falei no início do mesmo: Homeopatia e Alopatia são maneiras diferentes de se entender a Medicina, não apenas modos diversos de se tratar o enfermo. Todavia, ambas têm o mérito de salvar vidas, única missão do médico.

Como o paciente deve relatar suas queixas para o médico homeopata?


Um diálogo surrealista:
-
Minha filha, vai, por favor, até o aeroporto, pegar o tio Pedro que chega de viagem hoje, às 15 horas, para passar uns dias aqui em casa.
- Mas mãe, eu não conheço esse tio...
- Eu sei que você nunca viu o tio Pedro, nem em fotografias, mas darei uma descrição dele e isto ajudará a encontra-lo no meio de tanta gente: Ele não é gordo nem magro, nem alto, nem baixo, ele é normal. Além disto, tem dois olhos, um nariz e uma boca. E não se esquece das duas orelhas dele, mais ou menos grandes, uma de cada lado da cabeça.
É claro que tal conversa não passa de uma suposição, por ser absurda. Mas, pasmem, é quase desta forma que alguns pacientes falam com seus homeopatas à procura de um remédio que os auxilie em suas aflições. As pessoas não têm má vontade de falar, apenas desconhecem que o médico sempre necessita de informações claras para chegar a um diagnóstico preciso, e o homeopata muito mais, pois ele elabora dois diagnósticos em cada consulta: O primeiro, semelhante ao que faz um alopata, sobre o tipo de enfermidade que afeta seu paciente. O segundo, e mais difícil, sobre qual remédio, entre as centenas disponíveis na homeopatia, é o mais adequado ao doente. E esta adequação do remédio ao enfermo, na homeopatia, é muitíssimo complicada já que envolve detalhes estranhos, parecendo, às vezes, desconectados da doença em questão.
Lembro-me de uma mulher que ia, eventualmente, a um ambulatório onde trabalhei, e sua frase predileta era sempre a mesma – Doutor, eu estou com dor... Isto ela falava com toda a disposição do mundo, mas, daí para a frente, parecia se desinteressar das minhas perguntas e quase nada acrescentava.
O extremo oposto é encontrado no paciente que fala de sua doença com detalhes infinitos, mínimos, sem qualquer cansaço. É uma inflamação que o atormenta, naquele lugar assim, assim. Puxa uma lista interminável de receitas, algumas com muitos anos de idade, já amareladas, depois vem a pilha de exames etc. etc. etc. Tudo bem (ufa!), terminamos a peregrinação pelo joelho inflamado, agora vamos saber QUEM é esta pessoa com artrose de joelho. Pergunto: “Sr. Fulano, como é o seu gênio, sua maneira de ser? Como as pessoas mais próximas descrevem o Sr?” A primeira resposta surge na expressão de surpresa do rosto do Sr. Fulano. Deve pensar: “Esse cara é maluco, o que tem a ver meu joelho com o que minha mulher acha de mim?”.
A fim se ter melhor idéia de como certos detalhes são importantes para o homeopata, cito o caso de uma mocinha robusta que atendi no início de minha prática homeopática, apresentando uma erisipela de face, o que é bastante grave porque pode evoluir para enfermidades bem piores. A adolescente e sua mãe não faziam a menor idéia dos riscos envolvidos nesta infecção e meu primeiro impulso foi suprimir a doença imediatamente com um antibiótico, o que eu faria não fosse a seguinte e espontânea informação, preciosa demais, que a própria paciente deu: “Tudo o que eu tenho piora às 9 horas da noite, é sempre assim”. Existe um remédio na homeopatia cuja SEMELHANÇA com a paciente está, entre outros detalhes, nesta piora exatamente às 21 horas. Contive minha ansiedade em dar o antibiótico e continuei a interrogar a jovem e sua mãe, obtendo alguns detalhes a mais. Com informações mais consistentes sobre a moça, E QUE EM NADA SE RELACIONAVAM COM A ERISIPELA, a indicar tão veementemente a SEMELHANÇA dela com os sintomas provocados por um certo remédio no Homem São, tomei coragem e lhe dei uma dose deste medicamento, em baixa potência, a única disponível no momento, e pedi que voltasse no dia seguinte. Surpresa! Em pouco tempo, com apenas uma dose do remédio em dinamização tão baixa, a erisipela havia melhorado substancialmente, a vermelhidão dera lugar a um tom róseo na pele do rosto, e a inchação murchara muito. Em poucos dias estava curada. Jamais me esqueci desta paciente e do impulso que deu em minha confiança na homeopatia com uma simples frase: “Tudo o que eu tenho piora às 9 horas da noite, é sempre assim”. Essa frase entraria em um ouvido e sairia pelo outro do mais competente dos alopatas, porque nada diz a ele que gostaria, isto sim, é de saber se a moça era alérgica a algum antibiótico etc. Piorar às 9 ou às 10 horas do dia ou da noite não é informação aproveitável na alopatia, não ajuda em quase nada pois o interesse está voltado inteiramente para a doença e, não, em caracterizar o enfermo. Isto é crítica ao colega alopata? De forma nenhuma, pois eu também receitaria um antibiótico à moça com erisipela se não conhecesse a Homeopatia e não tivesse certeza absoluta, inabalável, que o remédio dela era aquele ou qualquer outro assim tão bem evidenciado. Em primeiro lugar está a vida do paciente.
A eterna procura do médico é por este medicamento que cura ou alivia as dores de seus enfermos. Nós, médicos, não temos “bolas de cristal” e, para chegarmos ao remédio ideal, precisamos de informações pertinentes. Somente as pessoas que sabem se observar têm tais informações disponíveis; aquelas que são desatentas, apressadas, que se consultam com um médico como vão ao "fast-food", dificultam muito nosso trabalho. Se o tratamento, então, é com um homeopata, aí fica impossível mesmo ajudar como gostaríamos a partir de informações telegráficas e superficiais.
Fulaninho está com febre, de 37º, e já dei um remédio para a febre sumir” diz a mãe aflita ao telefone. “Mas como?- responde o homeopata - só 37º e a Sra. já deu um antitérmico?” “Claro! Eu tenho horror a febre. Vai que ele faz uma convulsão!”E a Sra. observou algum sintoma novo durante esta febrícula, ele está ou não indisposto, com frio ou calor, com sede ou sem sede, tem calafrios ou não, qualquer mudança em seu modo de ser?” “Não, ele está normal, só teve a febre...” “Olha - acrescenta o médico, desanimado – assim não é possível receitar remédio algum para ele. Vamos aguardar o efeito do antitérmico passar e, se a febre voltar, a Sra. não lhe dá este remédio logo, espera a temperatura subir um pouco e vê como o fulaninho vai ficar, se indisposto ou agitado, com frio ou com calor, com calafrios ou não, mais sede ou menos sede, enfim, tudo o que puder perceber de diferente nele e me informe rapidamente. Estou esperando”. A mãe do fulaninho despede-se, frustrada.
Que gênio milagroso da homeopatia poderia medicar a criança (ou adulto) do exemplo acima? Apenas para “febre” o homeopata dispõe de 48 remédios diferentes. Uma vez que não se pode fazer uma mistura dos 48 remédios existentes, qual deles escolher sem maiores informações além de febre?
Aí está a razão deste artigo: auxiliar os clientes dos homeopatas a auxiliar seus homeopatas, para serem auxiliados. É uma via de mão dupla.
Portanto, observem, a si e aos seus parentes, no dia-a-dia e nas doenças agudas que surjam. Percebam as características próprias de cada um, as formas como se comportam diante da vida e das enfermidades que tenham. Para o homeopata, é muito mais importante saber que alguém tem uma sede assim ou assado, que fala “pelos cotovelos”, que tem um tremendo mau-humor às 3 horas da tarde, que é doce e suave, ou bravo e agressivo, que chora à toa ou jamais chora, que adora ficar só ou só quer estar em companhia dos outros etc, do que ser informado de uma garganta muito vermelha ou uma dermatite que coça. Atenção para tudo o que for que não signifique, apenas, sintomas e sinais de uma doença qualquer, e, sim, sintomas e sinais de como o ser humano reage à vida e suas agressões corriqueiras, mesmo que pareça algo totalmente descabido. Quem assim procede será apresentado às enormes potencialidades que a Homeopatia tem. Caso contrário, não lhe faltará alopatas competentíssimos, aptos a lhe darem o conforto merecido.

sábado

Supressão - o cantar da sereia


É muito conhecido o mito grego das sereias, que viviam em uma ilha do mar Mediterrâneo e tinham canto belíssimo, usado para atrair os navegadores que passavam próximo à ilha até chocarem suas naus contra as rochas. Em seguida, elas devoravam os náufragos.
Vou discorrer, agora, sobre o fenômeno da supressão, este canto de sereia que encanta e devora os incautos por ele seduzidos, embora dê alívio às suas queixas .
Primeiro faz-se necessário definir supressão, já abordada, de maneira sumária, em artigo anterior, quando citei um caso clínico hipotético de eczema que evoluiu para diabetes. Quem leu este artigo deve se recordar que o paciente em questão teve seu eczema SUPRIMIDO pela cortisona, aparecendo, depois de algum tempo, com reumatismo, também SUPRIMIDO por cortisona ou algum imunossupressor diferente, dando lugar, finalmente, ao diabetes. O alopata não vê a menor relação evolutiva entre eczema e diabetes, para ele são doenças inteiramente distintas e, por isto, não entende o esforço que os homeopatas fazem em curar seus enfermos sem provocar-lhes a temida SUPRESSÃO, conceito ignorado pela alopatia. Um alopata deve se perguntar porque algum médico deixaria de receitar a cortisona tópica ou interna, se, com este medicamento, as respostas são bastante satisfatórias, tanto em casos dermatológicos quanto reumatológicos, entre outros. Eles não sabem que estas respostas satisfatórias significam SUPRESSÃO. Trocando em miúdos:
Suprime-se todas as vezes em que fazemos desaparecer uma doença, seja ela qual for e com qualquer remédio utilizado, tanto alopático (e fitoterapia, ou tratamento com vegetais (chás etc), é alopatia), quanto homeopático, tomando-se apenas a doença como base para a receita do remédio, ignorando-se o conjunto de sintomas mentais, gerais e locais que caracterizam o enfermo, o ser que sofre. Ao suprimir-se, transforma-se uma doença menos séria em outra mais grave ou, no mínimo, faz-se com que a mesma doença volte algum tempo depois de suprimida.
Hipocrates, o “pai” da medicina, dizia que sedar a dor é obra divina. Nada mais correto, pois a dor provoca intenso sofrimento em quem sente e em quem presencia. Todavia, existem modos muito diversos de sedar a dor ou qualquer outro incômodo em nossos pacientes. Abaixo darei o exemplo hipotético de uma paciente, atendida em consultório homeopático, para ilustrar o que é e o que não é supressão:
Maria sofre com intensas dores uterinas durante suas menstruações e sente-se muito triste no pré-menstrual.
Se parasse a história desta senhora apenas com informações tão superficiais, a possibilidade de suprimi-la seria enorme pois existem dez diferentes remédios homeopáticos capazes de aliviá-la mas apenas um dos dez promoveria a cura, os outros nove estariam lhe suprimindo. Obrigatório se faz, então, proseguir na investigação.
Maria é muito friorenta, está sempre se agasalhando, e quase não tem sede.
A história já evoluiu, não estamos mais presos apenas às queixas iniciais da paciente. Com isto, diminuímos a quantidade de remédios possíveis para ela, de dez passamos para seis remédios, sempre conscientes de que, dos seis, um cura e cinco suprimem. Continuando:
Maria é uma mulher estranha, todos lhe acham triste e distante, não sente o menor prazer de estar próximo a quem quer que seja, nem dos próprios familiares, e é incapaz de mostrar afeto.
Agora sim, com esta informação, o homeopata já é capaz de dizer que o único remédio que irá curar Maria, e não suprimi-la, é apenas um dos dez iniciais. Tomando este remédio, Maria logo se tornará menos triste, mesmo nos pré-menstruais, mais sociável, capacitada a sentir e mostrar amor, além de não ter mais as cólicas que a atormentavam. Vimos, com o exemplo acima, que é muito mais fácil suprimir alguém do que realmente curar, e isto com uma paciente atendida por homeopata, que se preocupa (ou deveria se preocupar) com as graves conseqüências da supressão.
Na época de Hahnemann, ao final do século XVIII e início do século XIX, os médicos usavam métodos de tratamento que, hoje, provocam sorrisos em seus colegas. A medicina evoluiu muito nesses últimos duzentos anos, ninguém pode negar, mas a forma básica de ver a enfermidade, no século XVIII e agora, pouco mudou. A exceção fica por conta da Homeopatia. Nossos colegas de tempos tão recuados pouco sabiam da estrutura e do funcionamento dos órgãos humanos e animais. Desconheciam bactérias e, conseqüentemente, a forma de evitar contaminações nos atos cirúrgicos violentos, feitos “a frio”, pois ainda não havia anestésicos. Um cirurgião era tão mais famoso quanto mais rapidamente amputava um braço ou uma perna, enquanto alguns homens fortes, seus auxiliares, continham o infeliz enfermo. Existem casos de amputações feitas com tanta pressa que levavam, junto, alguns dedos do próprio cirurgião. Brutal. Basta, pois, este pequeno relato para se perceber o quanto a medicina progrediu. Entretanto, repito, a forma de entender a doença pela alopatia (ou “velha escola”, como Hahnemann a chamava) continua a mesma há mais de dois séculos, embora, hoje, muito mais sofisticada, chega a níveis de definição tão ínfimos que alcança a molécula protéica alterada, qual ocorre com a eritrofalcemia, por exemplo, e ao gen que formou a molécula anormal. Para este fim, gerações de pesquisadores trabalharam duro em seus laboratórios e consultórios, sacrificando-se pelo progresso da Ciência. A eles, nossa justa gratidão e reconhecimento. Mas, apesar de descobertas tão importantes, de tantos remédios maravilhosos que trazem o esperado alívio aos nossos males, digo, pela terceira vez, que a medicina tradicional, alopática, permanece entendendo que doença e acaso andam de braços dados.
- Fulano tem uma artrite grave...
- E beltrano, que apareceu com arritmia cardíaca, logo depois de ser curado da pneumonia? Que azar...
Aí está uma das grandes diferenças que separam a homeopatia da alopatia. A doença não é um acaso – aliás, ou existe Deus, ou existe o acaso, Um torna a existência do outro impossível. O Homem enfermo segue uma longa trilha, iniciada no plano mental, antes de manifestar alguma lesão orgânica. Nenhum exame, por mais atual e sofisticado que seja, conseguirá identificar a doença antes que distúrbios orgânicos se manifestem. Por isto, crê o alopata que as queixas ditas funcionais, aquelas carentes de manifestações orgânicas observáveis, sejam apenas “estresse” ou “depressão”, sujeitas somente aos consultórios de psiquiatria ou a algum calmante ou anti-depressivo. Enquanto isto, nos consultórios homeopáticos, esmiuçamos, sempre, tanto a doença atual de quem nos procura, quanto, e principalmente, as suscetibilidades e a personalidade de nossos clientes. Só então estaremos aptos para receitar.
Espero que tenha sido entendido o conceito de SUPRESSÃO, importantíssimo e difícil de assimilar já que, desde nossa infância, somos orientados a entender as doenças como faz a alopatia e, por este motivo, nós, homeopatas, nos deparamos freqüentemente com pedidos de um remédio para uma doença qualquer com a famosa frase:
- Doutor, o que é bom, da homeopatia, para esta doença assim, assim?
- Não sei, até que lhe conheça melhor.

Esta deveria ser a resposta do médico que entende a Homeopatia e não se entrega ao canto de sereia das perigosas supressões.

sexta-feira

As doenças e seus níveis

Um grande homeopata do século XIX, Constantine Hering (1800 – 1880), natural da Saxônia (Alemanha) e que migrou, em 1833, para os Estados Unidos da América do Norte, estabeleceu um pequeno conjunto de leis – as leis de Hering – para guiar seus colegas na identificação de respostas adequadas e inadequadas nos enfermos medicados com remédios da homeopatia. Por meio dessas leis, sabemos ter feito um bom trabalho ou, ao contrário, SUPRIMIDO nossos clientes.
As leis de Hering dizem o seguinte:
Um remédio homeopático, corretamente receitado, pode provocar, nos enfermos, uma seqüência de eventos caracterizada pelo movimento dos sintomas da doença de cima para baixo, isto é, da cabeça para os pés, de dentro para fora, ou seja, a doença abandona planos mais profundos de acometimento do corpo, indo para níveis mais superficiais (p. ex: dos pulmões para a pele) e das enfermidades mais antigas para as mais recentes, o que significa que a doença atual é curada, enquanto, uma a uma, as doenças do passado daquele indivíduo vão reaparecendo, em geral atenuadas, na ordem inversa de como surgiram. Assim, se alguém sofreu de rinite aos cinco anos, asma aos quinze anos, artrite aos dezoito anos e, aos trinta, começa com psoríase, pode ver, após o remédio homeopático correto ser administrado, sua psoríase ir cedendo enquanto nota alguns sintomas da antiga artrite. A seguir, em espaço de tempo bastante variável, percebe que os incômodos da antiga artrite sumiram, mas ressurgiram episódios de falta de ar pouco intensa, semelhantes àqueles que sentia na asma dos quinze anos de idade. Depois, experimenta uma certa rinite, parecida à que teve aos cinco anos de idade. Com o desaparecimento da rinite, eis o nosso paciente curado, foi feito um bom trabalho. Resumindo este exemplo, e que serve para todos os outros:

Rinite -> asma -> artrite -> psoríase (Progressivo adoecer).

Psoríase -> artrite -> asma -> rinite (Em direção à cura - 3ª Lei de Hering)

Por outro lado, se o doente de psoríase acima abordado observasse que, depois de medicado por seu médico, a psoríase desaparecia e, mais tarde, uma nova enfermidade surgia, qual um vitiligo, ficaria claro, para o homeopata, que houve supressão, pois uma doença menos grave dera lugar a outra mais grave, mesmo que, como neste exemplo, ambas se manifestem na pele.
Objetivando facilitar a compreensão das leis de Hering, um importante homeopata indiano, Dr. Prafull Vijayakar, recentemente estabeleceu o que ele denominou “Tabela Miasmática de Supressão”, onde dispõe sete níveis de acometimento das enfermidades, sejam elas quais forem, sendo o primeiro nível o menos grave e o sétimo nível o mais grave. Para melhorar a compreensão, comparemos estes sete níveis a um edifício de sete andares no qual o andar térreo hospedasse as pessoas que tivessem saúde relativamente boa, com afecções pouco importantes, e o último andar àquelas com as mais graves doenças conhecidas. Do primeiro ao sétimo andares teremos os vários tecidos e órgãos de nossos corpos, e suas afecções, a caracterizar os níveis, conforme demonstração, muito simplificada, na tabela abaixo:

7º andar - Alterações no código genético (câncer etc). AIDS
6º andar - Sistema nervoso central e periférico
5º andar - Glândulas de secreção interna (tireóide, pâncreas etc)
4º andar - Órgãos do tórax e abdome.Vasos. Linfa
3º andar - Pele mais profunda, juntas, ossos, músculos, sangue
2º andar -Mucosas mais internas (urinária etc)
1º andar -Pele e mucosas mais superficiais (boca etc)


Observemos como se comportam as enfermidades ao longo da vida humana. Geralmente as crianças mostram forte tendência a manifestar suas doenças na pele, nos ouvidos externos e médios, no tecido mais externo de olhos (conjuntivas), nas pálpebras e nas mucosas de boca, trato respiratório superior (amígdalas, faringe, seios da face) e médio (asma etc), além de intestinos (colites etc) e vias urinárias (cistites etc). Estas enfermidades comuns da infância obedecem a algumas causas, em geral infecciosas, mas quase sempre estão confinadas aos tecidos acima referidos, e isto porque as crianças têm grande vitalidade e, assim, conseguem manter suas doenças o mais distante possível dos órgãos nobres, localizando suas enfermidades no primeiro e segundo andares do “edifício” antes exemplificado. Com a passagem do tempo e com o envelhecimento natural, o corpo não retém mais a vitalidade dos primeiros anos de vida, propiciando que as enfermidades penetrem mais e mais em seus níveis profundos, surgindo artrites, bursites e tendinites (3º andar), depois, digamos, uma hipertensão arterial da meia idade (4º andar), mais tarde, algum aumento da glicose no sangue e/ou problemas na tireóide (5º andar), adiante, tremores de mãos, Parkinsonismo etc (6º andar) e, na idade mais avançada, doença de Alzheimer, cânceres, insuficiência renal etc. (7º andar).
É evidente que nem sempre adoecemos nesta ordem, pois ocorrem cânceres em crianças, e existem pessoas que morrem com mais de 80 anos de idade sem nenhuma doença mais séria em toda a vida. Tudo depende da carga vital com a qual nascemos, vitalidade esta conseqüente a mecanismos genéticos herdados dos pais e a outro fator, desconhecido para a Ciência oficial, que abordarei em futuro artigo. Logo, quanto mais vitalidade, tanto maior facilidade em manter as doenças nos andares mais baixos do “edifício” citado, e o inverso também é verdadeiro.
Entretanto, um terceiro fator é responsável pela subida dos andares mais baixos para os mais altos no “edifício” da vida, e este fator é a SUPRESSÃO, já referida em artigo anterior. Imaginemos uma criança acometida de amigdalite, com febre associada a moleza no corpo, frio e muita sede. Suponhamos que esta criança, apesar da moleza que a febre lhe dá, mantenha-se interessada nos brinquedos e programas de televisão que aprecie, e, até mais, insista em fazer seus deveres escolares, isto é, o corpo está indisposto mas a mente continua ativa. Qual seria o tratamento preconizado pela alopatia?

Se a amigdalite fosse viral: Antitérmicos, maior ingesta de líquidos e repouso.
Se a amigdalite fosse bacteriana: Idem acima e antibióticos.

A primeira abordagem, apenas sintomática, deixaria a doença seguir seu curso natural e não geraria supressão. Todavia, a segunda abordagem é francamente supressiva, pois trata a amígdala e não o doente como um todo. O alopata não considerou as reações do enfermo à bactéria em questão, para ele isto tem importância pequena no tocante à prescrição do antibiótico, no máximo receitaria um antibiótico de amplo espectro, se a criança estivesse mais prostrada, enquanto aguardava uma cultura do material colhido na garganta. Este tratamento, embora fizesse desaparecer a amigdalite, poderia levar o paciente a desenvolver, por exemplo, uma cistite ou, pior, alguma furunculose e, mesmo, anemia, isto é, subiria um pouco, ainda dentro do segundo andar em que esta criança estava (cistite), ou passaria para o terceiro andar (furunculose ou anemia). Questionado pelos pais do menor, o colega alopata talvez supusesse que a imunidade do seu paciente estivesse baixa, e realmente estava, para ter infecções assim repetidas. Jamais, entretanto, entenderia, este médico, que as “doenças” referidas estão unidas pelo eixo da supressão que ele mesmo gerou, e não por falta de capacidade pessoal, longe disto, mas por conta do método alopático. Um homeopata consultado também estaria apto a suprimir esta amigdalite se insistisse em medicar a amígdala, apenas a amígdala, mesmo que unicamente com seus remédios homeopáticos. Por outro lado, bastaria ao homeopata perceber que o único remédio que cobre todas as manifestações do enfermo frente à bactéria alojada em sua garganta, ou seja, o remédio homeopático que, em experimentações, tanto no Homem sadio quanto na vivência clínica diária, provocou e curou febres com moleza no corpo, muita sede, frio e manutenção da atividade mental em níveis normais, é X. Com este X, ele curaria qualquer enfermidade (curável) que a criança apresentasse, seja infecciosa ou não, não importa o órgão ou o tecido afetado, desde que acompanhada dos sintomas acima relatados. Por isso mesmo, ao considerar o todo e não apenas uma parte do paciente, o remédio X não seria supressivo naquele caso e evitaria a subida do menor para “andares” mais altos e mais graves do “edifício” exemplificado. Faria, até, um movimento oposto, se este movimento ainda fosse necessário ao paciente, e “empurraria” as futuras enfermidades da referida criança para “andares” mais baixos, no sentido de doenças menos graves que a anterior amigdalite, como, por exemplo, uma conjuntivite.
Parece simples, agora, entender o temor que nós, homeopatas, temos das supressões e o esforço diário de nossa parte em evita-las. Não é esta uma questão teórica, de crença quase religiosa como querem alguns colegas, de forma nenhuma. Trata-se de uma constatação prática, científica, já que verificamos os doentes “descerem” dos "andares" mais altos para os mais baixos, reeditando alguns sintomas das antigas doenças que tiveram, como já disse antes, quando medicados com o remédio homeopático escolhido para a sua totalidade de sintomas físicos e mentais. Ou seja: Os tratamentos supressivos (alopáticos ou homeopáticos mal orientados), após provocarem o desaparecimento artificial de uma doença, empurram as pessoas na direção de outras enfermidades mais sérias. Já os tratamentos homeopáticos executados segundo as proposições hahnemannianas, conduzem-nas "andares" abaixo, em direção à saúde física, conseqüência da harmonia interior, mental e emocional.
Com a intenção de deixar seus enfermos caminharem “andares” abaixo, os homeopatas, na maioria das vezes, não os medicam enquanto "descem", "andar" por "andar", no hipotético edifício. Assim, se alguém é curado de uma furunculose com um remédio homeopático bem eleito e, a seguir, surge com alguma laringite, não deverá ser tratado desta laringite, pois ela indica descida do terceiro andar (furunculose) para o segundo andar (laringite), que é o caminho de cura de todos nós. Em geral os enfermos reclamam, já que a laringite, ou qualquer outra afecção, os incomoda e querem “se ver livres” dela. Muito justo, é claro. Porém, tratar alguma doença mais simples para gerar outra mais grave, o que aconteceria caso impedíssemos a “descida” dos "andares", nunca estará nos planos de qualquer médico consciente deste fato e cioso com seu dever profissional.
Compreender a Homeopatia é de grande importância, pois evita que se interfira, erradamente, quando o caminho das curas que todos queremos está sendo percorrido.

quinta-feira

Só existe uma doença no ser humano, e ela se chama Psora.

No Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32, encontramos a seguinte afirmação de Jesus: "...conhecereis a verdade e a verdade vos libertará ."
Realmente, a verdade sempre liberta aqueles que estiveram, antes, mergulhados na ignorância e a ignorância é antiga companheira do Homem, mesmo dos mais cultos, pois cultura não significa, sempre, sabedoria.
Sabedoria se adquire com vivência e com a maneira como observamos o mundo e a vida, não pelo simples acúmulo de conhecimento. É culta a criatura que estuda mais, é sabia a pessoa que entende melhor, seja ela muito culta ou nem tanto. A sabedoria é permanente, é instável a cultura.
O próprio João Evangelista, que transcreveu as palavras de Jesus Cristo, o Mestre dos mestres, de forma tão especial, que cultura poderia ter ele em época tão recuada? Qualquer aluno de segundo grau, nos tempos atuais, possui mais cultura do que tinha João, porém, muitos doutores de nossos dias não têm um décimo da sabedoria dele.
Assim, voltemos ao texto de João: “...e a verdade vos libertará...”
A verdade que liberta é a verdade com V maiúsculo, a Verdade que permanece séculos afora, que enfrenta o progresso da Ciência sem virar peça de museu. Pode-se até duvidar dela, por motivos pessoais, mas não acusa-la de tolice já que terá, em todos os tempos, uma lógica admirável. Comparemos, para ilustrar, duas chamadas verdades por seus autores, apenas duas, entre tantas: O IIIº Reich e o Cristianismo. Adolf Hitler, com toda a pompa da qual se cercava, dizia que seu “Reich” duraria mil anos, e ele acreditava inteiramente nisto, na insanidade em que vivia. Durou uns poucos anos e terminou do jeito que sabemos. Jesus de Nazaré, que não tinha sequer um lugar próprio para pouso, em Sua imensa humildade, trouxe o Evangelho ao mundo e o demonstrou com exemplos magníficos. As palavras deste Ser sublime são eternas e penetram profundamente nas almas dos que se dispõe a lê-las e a vivenciá-las.
Há pouco mais de 200 anos, Samuel Hahnemann nos premiou com uma nova forma de entender a saúde e a enfermidade. Ao longo dos dois séculos de existência, a Homeopatia sofreu acréscimos importantes em suas bases teóricas e práticas, acréscimos esses, entretanto, que pouco mudaram a essência do pensamento Hahnemanniano. Um homeopata do século XIX e outro de nossos dias conversariam, se possível fosse, sem nenhuma dificuldade, sobre um paciente qualquer: ambos estariam de posse de um conhecimento teórico tal da homeopatia que a distância de mais de um século não emperraria o diálogo. Imaginemos situação semelhante para dois alopatas: um de 1907, outro de 2007, falando de algum enfermo. Talvez excetuando o diagnóstico da doença, se ela já fosse conhecida por ambos, o restante do diálogo seria impossível. A conduta do primeiro seria tão diferente daquela do médico moderno que eles não se entenderiam. Em uma avaliação rápida, tais diferenças tão marcantes significariam que houve grande progresso na alopatia e nenhuma evolução na homeopatia. Assim parece, mas não é real. Os remédios alopáticos e a maneira de tratar as doenças mudaram inteiramente em 100 anos, enquanto os remédios homeopáticos e o modo da Homeopatia entender a medicina pouco modificaram em 200 anos, apenas foram enriquecidos. Ou seja, a filosofia homeopática se assemelha a um edifício no qual acrescentamos andares acima sem destruir os andares de baixo e, muito menos, os alicerces. A construção alopática é uma torre de Babel: edifica-se uma parede mas demole-se outra, um operário cimenta cinco tijolos e outro os derruba em pouco tempo. Acaba se construindo algo, mas tosco, disforme. Falta, nesta obra, um plano diretor, um eixo sólido e permanente que oriente o crescimento porque cada nova descoberta da Ciência é uma pedra a mais para se depositar em alguma parte, ao mesmo tempo em que outras pedras devem ser retiradas, e assim por diante. O que hoje é a última palavra em terapêutica, amanhã não passará de velharia inútil. Vejam que diferença em relação às outras Ciências, como a Física e a Química. As descobertas de Newton e de Lavoisier enfrentam a prova dos anos sem se desmancharem em pó. Muito foi somado ao que eles descobriram, mas pouco subtraído, já que suas bases são bastante sólidas. Fato semelhante vemos na Homeopatia. Há sabedoria, portanto, nos legados de Newton, de Lavoisier, de Hahnemann e de muitos outros pesquisadores do passado, pois o que construíram não poderá ser desfeito, são Verdades.
Dito isto, poderemos entrar no cerne da filosofia homeopática, naquilo em que ela difere ainda mais da teoria alopática, ou seja, no conceito de doença.
Já abordei, em artigo anterior, que doença, para a Alopatia, significa um evento fortuito, algo que acontece mais ou menos ao acaso, por azar de quem a contrai e sorte de quem lhe está imune. Além disto, já que há uma causa para a enfermidade - e sempre haverá causa para qualquer efeito - ela estará, de acordo com a alopatia, inteiramente restrita à matéria, o corpo adoeceria por alguma deficiência na química celular. Não é assim para a Homeopatia.
Hahnemann percebeu, no início de sua prática com a Homeopatia, que as doenças que ele tratava desapareciam, mas, algum tempo depois, retornavam, às vezes até piores. Ora, refletia o alemão genial, se as doenças retornavam, após certo período silenciosas, era sinal que não haviam sido eliminadas, mas que permaneceram ocultas na intimidade dos pacientes, esperando o momento oportuno de ressurgirem, no mesmo tecido ou em algum outro órgão, qual ocorre, como sabemos hoje, com o vírus do herpes simples. Esta resposta é comum a todas as enfermidades tratadas segundo a maneira alopática, isto é, com o foco voltado apenas para a doença, sem observar as reações do enfermo e suas particularidades. Então, possivelmente considerava Hahnemann, ou a Homeopatia era mais uma terapêutica frágil em seus princípios, ou algo ainda necessitava ser descoberto para possibilitar melhor entende-la. Anos de observação conduziram-no à descoberta da peça-chave na filosofia Homeopática, por ele denominada Psora (do grego, significando estigma).
A Psora, portanto, é algo inerente a qualquer ser humano, sem exceção, um estigma da raça, pré-existente a todas as doenças, propiciando terreno fértil para a eclosão delas, permitindo que se instalem e progridam em nossos corpos, tenham lá o nome que tiverem. Sem a Psora, nunca ficaríamos doentes.
Alguns homeopatas modernos propõem que a Psora seja o próprio código genético (DNA) alterado dos indivíduos, com o que discordo, pelos motivos a seguir: As mutações são, no entender da Ciência, aleatórias, isto é, ocorrem eventualmente em uma ou outra célula, por vários motivos e a cada dia. Quando tais mutações do DNA atingem genes vitais para o metabolismo celular, a célula assim afetada morre e, desta forma, em nada compromete o funcionamento do organismo. Todavia, se a mutação do DNA não atinge genes vitais, a célula pode continuar a viver e a se dividir, gerando células-filhas idênticas a ela própria, isto é, anormais. As células filhas também se dividirão em outras células anômalas e, em um tempo variável, grandes extensões de tecido estarão invadidas pelo clone dessas células mutantes. Assim é que surgem os tumores benignos e malignos, entre outras tantas enfermidades. Entretanto, as células normais possuem mecanismos de defesa que dificultam e freqüentemente impedem que suas vizinhas, quando mutantes, consigam sobreviver. Se tais mecanismos de defesa falham, eclodem as anormalidades, ou seja, aparecem algumas doenças catalogadas pela medicina. Logo, quando algo falha na defesa do organismo, este “algo” refletirá uma deficiência das células ditas normais, que não combateram adequadamente as outras células alteradas, com DNA mutante. Se o câncer cresce em um tecido qualquer, tanto as células “normais” deste mesmo tecido estão passivas em relação à anormalidade de um pequeno número de células irmãs, quanto todo o corpo não está reagindo como deveria a algo potencialmente letal. Portanto, não foi o DNA mutante, sozinho, que fez a doença aparecer, mas, também, alguma função normal de todo o ser enfermo que deixou de exercer a plenitude de sua atividade protetora. Logo, se pensarmos que Psora e DNA alterado sejam sinônimos, teremos de aceitar que este DNA anormal surgiu na primeira célula de um indivíduo, ou seja, ainda no ovo, para ter capacidade de transmitir sua anormalidade para a totalidade das células-filhas do organismo. Além do mais, já que a Psora está presente na raça humana inteira, esta alteração da primeira célula do ovo existiria em todos os seres-humanos. Se assim fosse, ou deixaria de ser uma anormalidade ou a raça humana desapareceria. Este raciocínio simples, derruba, a meu ver, a hipótese, em questão, de que Psora seria uma alteração genética.
Por ser assim presente na generalidade dos seres humanos, e como afastamos a possibilidade da Psora ter sua origem no DNA alterado, sobram duas outras possíveis identidades para a Psora:
1º Estaria localizada em algum transtorno bioquímico das células (de todas elas, sem exceção), sem que houvesse mutação no DNA nas mesmas.
2º Não estaria localizada nas células.
A primeira hipótese é tão inconsistente quanto aquela discutida linhas acima, e erra nos mesmos princípios. Não necessita, portanto, de maior investigação.
A segunda, todavia, merece profunda atenção. Vejamos, pois: Os seres vivos são compostos de células e material inerte por elas depositado. Um osso, por exemplo, é constituído de matriz a base de cálcio, não viva, e células que constroem e desfazem esta matriz, na medida das necessidades do Ser. Portanto, a parte viva do vegetal ou do animal está formada apenas de células. Como deduzi que a Psora não está nas células, ou ela residiria na partes inertes do Homem, quais pêlos, unhas e outros componentes orgânicos sem vida, o que é absurdo para algo tão importante quanto a Psora, ou se fixaria em uma região invisível para nossos olhos, mas vital. Neste ponto, a Ciência ortodoxa se detém, incrédula de que qualquer coisa possa existir sem que seja assinalada pelos cinco sentidos humanos ou, o que dá no mesmo, pela prospecção das máquinas que a própria Ciência criou. Isto me faz lembrar do cientista que insultou um assistente de Edison, chamando-o de ventríloquo e mistificador, depois de escutar uma gravação feita, de sua própria voz, sobre um pequeno cilindro de estanho, em frente a este colega incrédulo, no aparelho mais tarde denominado fonógrafo. Para tal doutor de mente curta, gravar a voz seria algo impossível. Hoje, até brinquedos gravam vozes... Retornemos à nossa Psora. Então, a lógica aponta para a existência da Psora em níveis extra-físicos, porém vitais para os seres humanos, e Hahnemann, vitalista que era, identificava a Psora como uma forma anômala de energia presente na raça humana inteira, sem exceção, pois todos nós estamos sujeitos a desenvolver enfermidades, sejam simples resfriados, sejam cânceres etc. Além do mais, já que ocorrem, a cada dia, abortos espontâneos devido, entre outros motivos, à inviabilidade vital de fetos, conclui-se que fetos adoecem e morrem, até mesmo antes de terem um corpo reconhecido como humano, ainda embriões, ou até mais cedo, logo após a formação do ovo.

A Ciência oficial argumenta que estes abortos ocorrem devido a importantes alterações genéticas, pouco depois da fusão dos gametas paterno e materno. Sem dúvida, assim é. Porém, como argumentamos que o acaso não pode existir, pois, se assim fosse, Deus seria uma ilusão, já que um de Seus atributos, a Omnipresença, estaria derrubado, tais alterações genéticas não se manifestam sem um motivo, sem a aquiescência divina. Um outro atributo da divindade é a Justiça - Deus injusto não é Deus. Portanto, como haveria justiça sem uma causa para determinado efeito? O aborto de um embrião, mesmo ainda nas fases mais precoces de desenvolvimento, só pode ocorrer em conformidade com a vontade de Deus que, justo como é, não o permitiria sem uma causa anterior ao próprio corpo material, causa esta advinda de ato equivocado de uma inteligência responsável pelo que fez. Portanto, a Psora, esta companheira indesejada de todos os Homens, existe antes da formação de nossos corpos físicos atuais, sendo algo, portanto, imaterial. Além disto, ela se confunde com a justiça perfeita de Deus ou, nas palavras de Jesus: "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória".
Se assim é, que “coisa” imaterial estaria afetando todas as criaturas humanas antes mesmo de terem um corpo físico? E que princípio é este, tão tenaz e potente, que não poupa ninguém?
Para os que crêem em Adão e Eva e no pecado original, esta é uma explicação plausível, pois afetaria todos os Homens sobre a Terra e estaria presente, como um estigma, antes mesmo de sermos gerados. As doenças seriam o resultado do mau proceder do primeiro casal humano, como diz a Bíblia, a afetar até mesmo sua mais longínqua descendência, pelos milênios afora. Algo muito injusto, creio eu, e, assim, distante de Deus. Embora respeite as convicções de quem quer que seja, esta não é minha maneira de entender a Psora, maneira minha esta que também ficará sujeita à rejeição, dentro da liberdade de pensamento a que todos temos direito.
Penso, como adepto da Doutrina Espírita e, portanto, reencarnacionista, que Deus cria Seus “filhos” simples e ignorantes, ou seja, todos semelhantes, dentro do princípio da perfeita justiça, própria do Ser supremo, conforme acima me referi. Seria profundamente injusto sermos criados, como espíritos, no momento da formação do corpo, como querem algumas religiões, pois nascem crianças destinadas ao sofrimento e, outras, afortunadas. Já que, conforme pensam alguns, nem a sofredora, nem a criança feliz e saudável fizeram absolutamente nada antes de nascerem, pois não existiriam física e nem espiritualmente, que Deus injusto é este, das religiões não-reencarnacionistas, inclinado a premiar uns e a castigar outros, sem qualquer motivo? Onde está a lógica deste pensamento?
O destino de todas as criaturas também é um só: a maior proximidade possível com Deus, o que algumas religiões chamam de paraíso.
Portanto, segundo penso eu e nos é ensinado pelos espíritos superiores, somos criados iguais e temos o mesmo destino na eternidade. Um mesmo princípio e um mesmo destino, sem preferências, sem "escolhidos".
Nossa opção pessoal fica situada entre estes dois extremos, é aí que funciona o livre-arbítrio, pois, se trilhamos o caminho do Bem seguimos em linha reta até o nosso destino comum, que é a presença de Deus, mas, se optamos pelo Mal, daremos voltas e mais voltas para aprender e reparar este mal, retardando o almejado encontro do “Filho Pródigo com o Pai”. Tudo se passa como a um aluno em educandário - aprendeu a lição, é aprovado, progride; não aprendeu, volta para a mesma classe a fim de melhor entendimento da matéria.
Entre a nossa criação e o término da jornada há uma distância evolutiva imensa, talvez maior do que a distância que separa o verme do ser humano. Não é possível partirmos de seres primários, recém-criados, e atingirmos as culminâncias da companhia divina em poucos anos, nem em alguns séculos. Não é admissível que uma criança mal alfabetizada se inscreva em um curso de pós-doutorado. Eras são necessárias para que, pelo esforço pessoal de aprimoramento, atinjamos o cobiçado encontro com Deus. Uma vez que nossos corpos duram, quando muito, 100 anos, é impossível chegarmos à perfeição relativa em apenas uma vida no corpo, ou encarnação. Muitos e muitos nascimentos e mortes, muitos e muitos corpos nos servem de moradas transitórias, a nós, espíritos eternos em aperfeiçoamento. Por meios dessas passagens pelos corpos, intercaladas de estadias nos planos de vida extrafísicos, onde também podemos evolver (“há muitas moradas na casa de Meu Pai...”), as duas “asas” do futuro e alegórico “anjo” vão sendo desenvolvidas, sempre pelo esforço pessoal. Estas duas “asas” são o Amor e a Sabedoria que construímos pessoalmente, por pensamentos, palavras e atos acertados, e que, portanto, com justiça nos pertencem. Os corpos físicos são, por assim dizer, degraus em que nós, espíritos eternos, nos amparamos na enorme ascensão, sem jamais perdermos a identidade própria, pois a morte dos corpos nunca aniquila nossas consciências enquanto espíritos. Como somos herdeiros das próprias ações, temos méritos e débitos seculares registrados em nosso corpo etéreo, aquele mesmo corpo etéreo dos Profetas e que foi visto por Pedro junto a Jesus. Os débitos exigem resgates, recomeços, para que se transformem em méritos e, finalmente, consigamos vestir a “túnica nupcial”.
Apesar da amnésia do passado que os corpos físicos proporcionam, amnésia completa em uns e parcial em outros, há uma força que é comum a todos, responsável pela cobrança íntima dos débitos. A esta força convencionou-se chamar de “consciência” e dizemos: “Minha consciência me acusa...” ou “Fulano não tem consciência para poder praticar esse crime...” Esta denominada consciência tem, por fim único, impulsionar-nos à vitória sobre nossos erros, isto é, evoluir. Seu filho dileto é o remorso. Quando sentimos remorso, contamos com o instrumento necessário para o próximo passo, que é agirmos corretamente doravante. Se não o fizermos, o remorso persistirá cobrando e cobrando aquele débito, implacável, sem maneira dele escaparmos já que faz parte de nosso ser até saldarmos todas as dívidas. Como tudo o que é imperfeito deve desaparecer de nossos espíritos antes de alcançarmos o término da jornada, os remorsos também se extinguirão um dia, por nada mais terem a cobrar, restando, só então, o espírito puro, imagem e semelhança de Deus, retrato fiel do Mestre maior, Jesus Cristo.
Assim, qualquer espírito, em sua marcha evolutiva, antes de poder resplandecer junto a Deus, encontra-se encoberto de impurezas, qual diamante incrustado na rocha bruta. Tais impurezas são geradas pela ignorância de nossa consciência superficial, conhecida como ego entre os hindus. Temos, portanto, nossa verdadeira essência, a matriz de tudo que fomos e que seremos um dia, denominada de espírito, pura energia, coberta temporariamente de um corpo imperfeito, também composto de energia, embora muito mais densa do que a do espírito (chegando até à semi-materialidade nos seres mais rústicos), invisível aos olhos de carne, denominada, entre os Espíritas, de periespírito e que tem, como uma das funções, a de tornar possível um acoplamento do espírito aos corpos físicos nas reencarnações. O periespírito, ou corpo espiritual, sobrevive à morte dos corpos físicos e carrega consigo a memória de tudo o que fizemos, em todas as encarnações. As más ações lá estão como “manchas”, verdadeiras chagas energéticas, gerando disfunções psíquicas e orgânicas nos futuros reencarnantes, como a lembrar que é indispensável reparar os erros para se ter plena saúde física e mental. No plano mental, sentimos tais “manchas” como remorso, não sabemos de que, por causa da amnésia que o corpo denso nos confere quando reencarnados, ocasionando angustia e ansiedade, maior ou menor, na dependência da gravidade do erro. No corpo, as “manchas” perispirituais condicionam as doenças, todas elas. Não é isto a Psora de Hahnemann?
Com o intuito de ser mais claro, recorrerei, uma vez mais, ao exemplo: Imaginemos que João assassinou Maria, por asfixia, na encarnação anterior dele. Anos mais tarde João também morreu (desencarnou) e, depois de muito sofrer como espírito endividado, no plano astral, renasce em outro corpo, é claro, para desfazer o ódio que sentia por Maria e, aos poucos, transforma-lo em amor. Assim funciona a “escola” divina em que estamos “matriculados”, dando-nos quantas chances forem necessárias para a nossa salvação. Caso o novo corpo que o antes denominado João recebeu fosse saudável, e havendo a amnésia que a matéria física confere a quem reencarna - amnésia bendita, diga-se de passagem, pois se recordássemos sempre do que fomos no passado, a vida na Terra seria um martírio maior ainda – existiriam, então, poucos estímulos para João se reformular, progredir moralmente. Mas, não. Está lá no perispírito do ex-João, atual, digamos, Olegário, a marca provocada pelo remorso do assassinato de Maria. Como ele a matou por asfixia, creio justo que esta marca esteja imersa na região perispiritual que comanda os órgãos respiratórios do atual Olegário. Aí está a causa da asma, ou da tuberculose pulmonar, ou do enfisema, ou seja lá do que for diagnosticado na medicina humana, sempre ambientada nos pulmões de Olegário, a cobrar, pela dificuldade respiratória, o necessário resgate do ato criminoso de outrora. Repito: Não é isto a Psora de Hahnemann?
Um leitor pouco afeito a estas questões poderia, agora, pensar que Deus seria cruel (se assim fosse, não seria Deus), ao criar leis permitindo a existência da dor. Por isto, religiões há que enfatizam a figura do diabo como causa dos sofrimentos do Homem. Sem querer estender muito este artigo e entrar no assunto da existência de UM diabo que eternamente guerreie contra Deus (??), indago se estas mesmas pessoas que acham Deus incapaz de permitir o menor sofrimento em seus filhos, não dariam muitas injeções dolorosíssimas nos filhos delas para os salvar de doença grave. Claro que sim! Um bom pai ou uma boa mãe aplicariam ou permitiriam tais injeções sem pestanejar, com o coração doendo mas repleto de amor, desejosos de ver seus filhos saudáveis. Para as crianças que sofressem a dor das agulhadas, os pais se comportariam como monstros, por não entenderem a intenção dos mesmos. Chorariam, gritariam, blasfemariam mas seriam contidas e obrigadas a receber as doses salvadoras das injeções. Outras crianças que assistissem esta cena, dariam toda a razão aos amiguinhos, também por não entenderem o que levou os pais a fazerem tamanha barbaridade. E haveria, entretanto, imenso amor paternal no ato das injeções. Com o passar do tempo, e entendendo que os pais são amáveis e bons, estas crianças procurariam um "bode expiatório" para justificar a dor que sofreram e elegeriam, de maneira equivocada, o médico ou a enfermeira como os "diabos" que lhe impuseram tal sofrimento, aparentemente contra a vontade dos genitores. Estaria formada a dicotomia Deus e "diabo".
Somos crianças espirituais. Acho desnecessário continuar este tópico, pois, para bom entendedor...
Temos, portanto, explicado, mal ou bem e segundo meu ponto de vista, o que vem a ser Psora e a sensação de angustia e ansiedade, sem motivos aparentes, que induz em todos nós. Chama-se esta ansiedade de “ansiedade existencial”. Tanto faz o nome que tenha, ela é a Psora.
Resta, agora, entender que ninguém consegue conviver com uma aflição interior que não tenha motivos aparentes. Rapidinho, nosso ego busca uma causa fora dele mesmo. Aí, o ego sai com essa: “Não está em mim, é óbvio, a causa de tanta ansiedade. Estou assim por causa daquele meu patrão, sempre me perseguindo, ou porque não tenho todo o conforto que mereço, ou porque minha mulher (marido) não me entende, ou por isto, ou por aquilo, ou por aquilo outro...” Pronto, a doença progrediu. E progrediu porque, se creio que a causa dos meus ais se encontram no mundo que me cerca, e não em mim mesmo, impõe-se uma imediata reação de defesa, aliás duas possíveis reações de defesa:
1ª “Parto para cima das pessoas que me cercam e domino elas todas, usando de artifícios que nem imaginam, em silêncio, por trás dos panos, ou mesmo, se precisar, na marra, ali, olho no olho, cara a cara. Vão ver só com quem estão lidando. Um dia vão entender como sou importante no mundo e me darão o justo valor. Terei uma fortuna, carrões, aviões, iates, estátuas enormes enaltecendo minha pessoa. Nunca descansarei antes deste momento, mesmo que precise trabalhar 20 horas por dia ou, quem sabe, subtrair o dinheiro que há por aí e que me pertence, pelo menos uma parte, por justiça, a fim de atingir meus objetivos. Elas não sabem com quem estão lidando”. Eis a Sicose.
2ª “O mundo ingrato quer me destruir, não é? Pois destruirei, eu, a tudo primeiro. Aos Homens, que me perseguem, e a este mundo mal planejado, repleto de injustiças e incompetências. Depois, sobre as cinzas, construirei uma nova ordem, a ordem que durará para todo o sempre, sem erros, sem falhas, impecável. Primeiro desapareço de cena, me finjo de morto, enquanto planejo a merecida vingança. Depois...Me aguardem...”. Eis aí a Sífilis (que não tem relação obrigatória com a doença homônima sexualmente transmissível).

Sicose e Sífilis, segundo as denominou Hahnemann, dois movimentos inconscientes opostos, ambos oriundos da Psora, mãe fecunda de todas as doenças.
Na Sicose, nossa energia vital se expande, quer abraçar o mundo e coloca-lo no bolso, dominado e submisso. Na Sífilis, nossa energia vital se atrofia, desejosa de esconder-se do meio agressor e destruí-lo anonimamente. Como é a energia periespiritual quem comanda todos os movimentos das células de nossos corpos e, também, da nossa mente superficial, a sicose condiciona enfermidades com substrato expansivo, tais como tendência à obesidade, verrugas e tumores outros, benignos e malignos, internos e externos, infartos por hipertrofia do interior das artérias, hipertensão arterial, hipertireodismo, hiper, hiper, hiper... Já na Sífilis, tudo é hipo, o corpo se torna esguio e, se não for o bastante emagrecer para compensar a energia encolhida, surgem necroses, que são perdas de massa, tenham lá a causa aparente que lhes atribua. A própria tuberculose é uma doença oriunda da Sífilis (não venérea, energética), pois sua característica maior é a abertura de crateras nos pulmões, nada mais do que perdas localizadas de tecido. Dirão: “Que cara ignorante este. Todo médico sabe que a tuberculose tem o Bacilo de Koch como causa e, matando-se o bacilo, cura-se o paciente”. Eu também sei disto, desde os tempos da faculdade. Posso também dizer que o Bacilo de Koch tem relação estreitíssima com a tuberculose, tão próxima que, quando o bacilo some, as cavernas cicatrizam. Mas, a cicatrização de uma caverna tuberculosa não significa cura do ser tuberculoso, ou melhor ainda, do ser sifilínico (atenção, não significa doença venérea). Fechada a cratera tuberculosa, pelo uso dos antibióticos específicos, o médico dá alta ao paciente, com natural e justa satisfação para ambos. E depois? Depois, a Sífilis (não forçosamente venérea, repito sempre), continuará cobrando seu tributo ao ex-tuberculoso, se ele não se melhorar moralmente, enquanto filho de Deus que é. Aparecerão, no futuro deste ex-tuberculoso, nova tuberculose ou qualquer doença do rol da Sífilis (de novo, não venérea), no corpo ou na mente. Se ele fosse Sicótico, o mesmo aconteceria, no extremo oposto. O tratamento homeopático bem aplicado controla estes des
vios da normalidade, auxiliando o próprio enfermo a se curar.
Psora, Sicose e Sífilis são os limites que Deus nos deu, a todos, enquanto insistirmos em permanecer insubmissos e afastados do Criador. Mais um motivo para meditarmos nas palavras de Jesus, quando disse que o caminho da salvação é estreito e difícil.