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O que é um Remédio Homeopático?

Já examinamos, ainda que muito superficialmente, em artigo anterior, o que vem a ser um remédio homeopático. Esse conhecimento é importante pois conduz ao entendimento de como usá-lo e irei, por isto, detalhar o assunto a seguir.
Em primeiro lugar relembremos que Hahnemann começou trabalhando com a matéria bruta, como se apresenta na Natureza, depois de testar em si mesmo aqueles produtos tóxicos para, assim, revelar o poder curativo dessas substâncias. Logo, porém, percebeu que, embora curasse os enfermos usando tais remédios tão materiais, antes de começarem as melhoras surgiam-lhes reações algumas vezes violentas e indesejáveis. Assim, resolveu diluir seus remédios para tentar minimizar tamanhas reações e, quanto mais os diluía, tanto menor eram estas reações e tanto maior os poderes curativos dos mesmos, efeito misterioso até o advento da Mecânica Quântica, na primeira metade do século XX, quando a Ciência começou a possuir instrumentos teóricos capazes de explicá-lo. Hahnemann, então, padronizou tais diluições, demonstrando mais uma vez seu espírito científico pois, em Ciência, se não padronizamos os métodos, não uniformizamos os resultados finais. Aplicou ele, com perspicácia, o seguinte método:
Quando a substância tem origem vegetal ou animal e é solúvel em água e álcool:
Produz-se uma tintura alcoólica por extração do suco de uma planta suculenta ou por trituração mecânica do vegetal menos rico em água ou animal em estudo, seguindo-se imersão do triturado em solução de álcool etílico a 95º. Depois de período mais ou menos longo de repouso e decantação, a solução alcoólica sem resíduos, mas já impregnada dos extratos vegetais ou animais, constitui a chamada Tintura-Mãe (abreviadamente, TM), possível de ser estocada durante muito tempo sem decomposição.
Quando a substância tem origem mineral e é solúvel em água e álcool:
Toma-se uma parte da substância e dilui-se em 99 partes de água destilada. Segue-se, depois, o método adiante estudado.
Quando a substância, mineral, vegetal ou animal, sólida ou líquida, mostra-se insolúvel em água ou álcool ou quando é estocada sob a forma de pós muito secos:
Mistura-se a substância com lactose e tritura-se com um pequeno pilão durante aproximadamente três horas. Então, retira-se uma parte do produto triturado com lactose e segue-se o processo geral descrito abaixo.
Após esta etapa inicial, separa-se uma parte da tintura-mãe, ou da trituração com lactose ou da solução mineral em água destilada e acrescenta-a a outras noventa e nove partes de solução alcoólica (20º a 70º). Submete-se, então, o recipiente com essa mistura, a cem “batidas” contra um objeto resistente (sucussões), etapa fundamental do método, pois, além de promover uma mistura mais homogênea, permite que, como sabemos hoje, o soluto “insira” suas características, únicas, no solvente, de tal forma que a solução alcoólica assim tratada passa a mostrar um efeito Raman-Laser diferente do que mostrava antes de sofrer as sucussões junto com as substâncias próprias ao vegetal, animal ou mineral em preparação. Após as cem sucussões, repete a transferência de uma parte desta solução dinamizada para outras noventa e nove partes de solução alcoólica, tornando a submete-la a cem sucussões e assim por diante, quantas vezes se pretenda. Cada conjunto de diluição e sucussão denomina-se dinamização e dá-se, a elas, um número sucessivo: à primeira, o número 1, à segunda, o número 2, à terceira, o número 3 etc. Como Hahnemann diluía na proporção de 1:100, esta escala recebeu o nome de Centesimal (C) ou Centesimal Hahnemanniana (CH), em uso até nossos dias. Portanto, qualquer remédio deve ter especificado, após seu nome, a dinamização à qual foi elevado. Por exemplo: Natrum muriaticum 5CH indica que o Cloreto de sódio (Natrum muriaticum) está dinamizado cinco vezes na escala centesimal Hahnemanniana. Nos primórdios da Homeopatia chegava-se, no máximo, à trigésima dinamização centesimal (30CH), pois, entre outros fatores, eram dinamizadas manualmente. Hoje, com máquinas apropriadas, a farmácia homeopática consegue atingir dinamizações tão altas quanto a centésima milionésima (100 MM), porém, nestes casos, substitui-se o CH pelo FC, abreviatura de Fluxo Contínuo, sistema pelo qual operam tais máquinas. Assim, temos, como ilustração: Natrum muriaticum 100MMFC (cem milhões de diluições 1:100 e dinamizações em fluxo contínuo) ou, em algum nível mais baixo, Natrum muriaticum 10MFC (dez mil diluições 1:100 e dinamizações em fluxo contínuo).
Além da escala centesimal, Hahnemann, já no fim de sua vida, desenvolveu a escala Cinquenta-Milesimal (LM), assim denominada devido a várias peculiaridades técnicas, em especial por não estar mais presente a diluição 1:100 mas, agora, 1:50.000, isto é, cada diluição é 50.000 vezes maior do que a anterior. Além disto, na escala Cinqüenta-Milesimal, Hahnemann enfatizou a importância das triturações de todos os remédios, antes de submete-los às diluições já descritas. Hoje sabemos que estas triturações retiram muito mais componentes dos vegetais e animais utilizados como medicamentos, quando comparadas à simples extração alcoólica das tinturas mães.
Em nosso país adotamos, também, uma escala diferente, criada por Hering, eminente homeopata alemão radicado nos Estados Unidos da América durante o século XIX, denominada Decimal (D ou X), pois cada diluição é dez vezes maior que a antecessora (1:10). Outras escalas existem mas são muito pouco utilizadas em nosso meio.
Seja qual for a escala adotada, segundo a situação clínica do momento e, ainda, por conta da preferência do médico, o princípio é sempre o mesmo: diluições e sucussões alternadas ou triturações são elementos fundamentais na preparação de um remédio homeopático já que, desta forma, o princípio curativo do mineral, da planta ou do animal é, de alguma maneira, “retirado” da matéria bruta e “transferido” para a solução hidro-alcoólica ou para a lactose que, ingeridos, “contaminam” o enfermo com seus “princípios”, curando-o se bem indicado, adoecendo-o se mal indicado.
O método acima permite, ainda, completa liberdade de escolha ao pesquisador já que ele poderá experimentar qualquer substância, seja natural ou artificial, na busca de um novo remédio homeopático, bastando, para isto, que disponha de um número razoável de voluntários para ingerir a substância e escrever os sintomas conseqüentes. Lembremos que, estando diluídos até níveis muito altos, os compostos químicos assim testados jamais serão letais, fator este que impossibilitaria experimentações humanas. Assim procedendo, Hahnemann e seguidores têm, até nossos dias, introduzido centenas de remédios no arsenal homeopático. Os melhores estudados, com sintomas físicos e psíquicos muito bem determinados, são denominados policrestos e seu número está em expansão devido a experimentações mais rigorosas de médicos contemporâneos. Todavia, até os remédios chamados pequenos, assim identificados porque ou foram mal pesquisados, ou não produzem grandes respostas no organismo humano ou, ainda, tenham efeito restrito a determinado órgão ou sistema, são muito valiosos na prática diária, especialmente nas enfermidades agudas. Ao conjunto de sinais e sintomas correspondentes a cada remédio e reunidos em livros dá-se o nome de Matéria Médica e seu conhecimento é indispensável na formação de um bom homeopata. Contudo, como a massa de informações das Matérias Médicas é gigantesca, torna-se impossível memorizá-las todas, razão porque surgiram, desde os primórdios desta ciência médica, catálogos onde cada sintoma ou sinal presente nas Matérias Médicas é referido tendo, a seguir, a lista dos remédios que o produzem e, consequentemente, curam tal sintoma ou sinal. A esses “catálogos” denominamos Repertórios cuja organização é, em essência, oposta à das Matérias Médicas. Por exemplo: Um sintoma mental como temor de alturas está coberto, no repertório do Dr. James Tyler Kent, eminente homeopata norte-americano falecido em 1916, pelos remédios Argentum nitricum, Pulsatilla, Staphisagria e Sulphur. Sempre que tal sintoma for bem forte, marcante, no psiquismo de alguém, a escolha do remédio ideal para esta pessoa recairá em UM dos quatro acima referidos, de acordo com os conhecimentos do médico e o conjunto de sintomas do paciente.
Enfatizo que qualquer substância pode se tornar um remédio homeopático se for dinamizada e testada de acordo com os métodos Hahnemannianos. É possível, mesmo, se alguém o desejar, transformar, por exemplo, um pedaço de papel em um remédio, por mais incrível que isto pareça. Poder-se-ia alegar que o papel, nesse caso, é inócuo à saúde, não faz bem nem mal, e seria tolice imaginá-lo como um remédio. Porém, mesmo elementos inofensivos ao Homem se transformam, muitas vezes, quando dinamizados, em remédios potentíssimos. Sobre isto já fiz referência, ao falar, em artigo anterior sobre a história da Homeopatia, no carvão vegetal, esse mesmo carvão que usamos em nossas churrasqueiras e que pode ser ingerido à vontade sem provocar qualquer resposta além de diminuir os gases intestinais, mas, do qual, as dinamizações sucessivas extraem propriedades, digamos, ocultas na matéria bruta e lhe eleva à categoria de remédio próprio aos estados agônicos, nas vizinhanças da morte. Igualmente, também, com o sal de cozinha (Natrum muriaticum) que comemos diariamente nos alimentos, ou com a areia de nossas praias (Silicea), ou com o pó das conchas de ostras (Calcarea ostrearum) e assim por diante, todos remédios de primeira linha para a ciência homeopática, por isto considerada como mística e inofensiva pelos ignorantes, diplomados em universidades ou não. Entretanto, além de usarmos, como remédios, elementos da Natureza aparentemente inativos no ser humano, temos venenos violentos em nosso arsenal terapêutico tal qual o arsênico (Arsenicum album), o mercúrio (Mercurius solubilis e outros), as peçonhas de várias cobras e aranhas (Lachesis, Vipera, Crotalus, Tarentula, Latrodectus etc), cuja ação tóxica, mesmo letal, foi praticamente abolida devido às diluições altíssimas com que trabalhamos, ainda mais a partir da décima-quinta dinamização, aproximadamente, quando desaparece a matéria e resta apenas a energia que lhe é própria, potente o suficiente para agir, cada vez mais profundamente, até, pelo menos, a centésima-milionésima potência.
Uma vez estando devidamente dinamizados, nas diversas potências, os remédios homeopáticos são estocados nas farmácias, geralmente em soluções alcoólicas. Ao fazermos nossos pedidos podemos optar por algumas apresentações, sendo, as mais comuns, gotas, glóbulos, tabletes ou “papéis”. No caso das gotas, o remédio é vendido diluído em álcool etílico entre 20% a 70%, em vidros com conta-gotas. Os glóbulos são pequenas esferas de açúcar (sacarose), os tabletes são cilindros de lactose, e os “papéis” têm esta denominação por serem invólucros de papel contendo lactose em pó no seu interior. A esses glóbulos, tabletes ou lactose em pó (papéis) o farmacêutico acrescenta gotas do remédio solicitado e, uma vez secos, embala-os em vidros ou nos envelopes de papel.
Objetivando universalizar a receita homeopática, todos os nossos remédios são conhecidos por seu nome científico ou latino, sem marcas comerciais ou fantasias. Desta forma, tanto no Brasil como em qualquer outro país, o receituário será sempre o mesmo, independente do idioma oficial de uma nação.