Um grande homeopata do século XIX, Constantine Hering (1800 – 1880), natural da Saxônia (Alemanha) e que migrou, em 1833, para os Estados Unidos da América do Norte, estabeleceu um pequeno conjunto de leis – as leis de Hering – para guiar seus colegas na identificação de respostas adequadas e inadequadas nos enfermos medicados com remédios da homeopatia. Por meio dessas leis, sabemos ter feito um bom trabalho ou, ao contrário, SUPRIMIDO nossos clientes.
As leis de Hering dizem o seguinte:
Um remédio homeopático, corretamente receitado, pode provocar, nos enfermos, uma seqüência de eventos caracterizada pelo movimento dos sintomas da doença de cima para baixo, isto é, da cabeça para os pés, de dentro para fora, ou seja, a doença abandona planos mais profundos de acometimento do corpo, indo para níveis mais superficiais (p. ex: dos pulmões para a pele) e das enfermidades mais antigas para as mais recentes, o que significa que a doença atual é curada, enquanto, uma a uma, as doenças do passado daquele indivíduo vão reaparecendo, em geral atenuadas, na ordem inversa de como surgiram. Assim, se alguém sofreu de rinite aos cinco anos, asma aos quinze anos, artrite aos dezoito anos e, aos trinta, começa com psoríase, pode ver, após o remédio homeopático correto ser administrado, sua psoríase ir cedendo enquanto nota alguns sintomas da antiga artrite. A seguir, em espaço de tempo bastante variável, percebe que os incômodos da antiga artrite sumiram, mas ressurgiram episódios de falta de ar pouco intensa, semelhantes àqueles que sentia na asma dos quinze anos de idade. Depois, experimenta uma certa rinite, parecida à que teve aos cinco anos de idade. Com o desaparecimento da rinite, eis o nosso paciente curado, foi feito um bom trabalho. Resumindo este exemplo, e que serve para todos os outros:
Rinite -> asma -> artrite -> psoríase (Progressivo adoecer).
Psoríase -> artrite -> asma -> rinite (Em direção à cura - 3ª Lei de Hering)
Por outro lado, se o doente de psoríase acima abordado observasse que, depois de medicado por seu médico, a psoríase desaparecia e, mais tarde, uma nova enfermidade surgia, qual um vitiligo, ficaria claro, para o homeopata, que houve supressão, pois uma doença menos grave dera lugar a outra mais grave, mesmo que, como neste exemplo, ambas se manifestem na pele.
Objetivando facilitar a compreensão das leis de Hering, um importante homeopata indiano, Dr. Prafull Vijayakar, recentemente estabeleceu o que ele denominou “Tabela Miasmática de Supressão”, onde dispõe sete níveis de acometimento das enfermidades, sejam elas quais forem, sendo o primeiro nível o menos grave e o sétimo nível o mais grave. Para melhorar a compreensão, comparemos estes sete níveis a um edifício de sete andares no qual o andar térreo hospedasse as pessoas que tivessem saúde relativamente boa, com afecções pouco importantes, e o último andar àquelas com as mais graves doenças conhecidas. Do primeiro ao sétimo andares teremos os vários tecidos e órgãos de nossos corpos, e suas afecções, a caracterizar os níveis, conforme demonstração, muito simplificada, na tabela abaixo:
7º andar - Alterações no código genético (câncer etc). AIDS
6º andar - Sistema nervoso central e periférico
5º andar - Glândulas de secreção interna (tireóide, pâncreas etc)
4º andar - Órgãos do tórax e abdome.Vasos. Linfa
3º andar - Pele mais profunda, juntas, ossos, músculos, sangue
2º andar -Mucosas mais internas (urinária etc)
1º andar -Pele e mucosas mais superficiais (boca etc)
Observemos como se comportam as enfermidades ao longo da vida humana. Geralmente as crianças mostram forte tendência a manifestar suas doenças na pele, nos ouvidos externos e médios, no tecido mais externo de olhos (conjuntivas), nas pálpebras e nas mucosas de boca, trato respiratório superior (amígdalas, faringe, seios da face) e médio (asma etc), além de intestinos (colites etc) e vias urinárias (cistites etc). Estas enfermidades comuns da infância obedecem a algumas causas, em geral infecciosas, mas quase sempre estão confinadas aos tecidos acima referidos, e isto porque as crianças têm grande vitalidade e, assim, conseguem manter suas doenças o mais distante possível dos órgãos nobres, localizando suas enfermidades no primeiro e segundo andares do “edifício” antes exemplificado. Com a passagem do tempo e com o envelhecimento natural, o corpo não retém mais a vitalidade dos primeiros anos de vida, propiciando que as enfermidades penetrem mais e mais em seus níveis profundos, surgindo artrites, bursites e tendinites (3º andar), depois, digamos, uma hipertensão arterial da meia idade (4º andar), mais tarde, algum aumento da glicose no sangue e/ou problemas na tireóide (5º andar), adiante, tremores de mãos, Parkinsonismo etc (6º andar) e, na idade mais avançada, doença de Alzheimer, cânceres, insuficiência renal etc. (7º andar).
É evidente que nem sempre adoecemos nesta ordem, pois ocorrem cânceres em crianças, e existem pessoas que morrem com mais de 80 anos de idade sem nenhuma doença mais séria em toda a vida. Tudo depende da carga vital com a qual nascemos, vitalidade esta conseqüente a mecanismos genéticos herdados dos pais e a outro fator, desconhecido para a Ciência oficial, que abordarei em futuro artigo. Logo, quanto mais vitalidade, tanto maior facilidade em manter as doenças nos andares mais baixos do “edifício” citado, e o inverso também é verdadeiro.
Entretanto, um terceiro fator é responsável pela subida dos andares mais baixos para os mais altos no “edifício” da vida, e este fator é a SUPRESSÃO, já referida em artigo anterior. Imaginemos uma criança acometida de amigdalite, com febre associada a moleza no corpo, frio e muita sede. Suponhamos que esta criança, apesar da moleza que a febre lhe dá, mantenha-se interessada nos brinquedos e programas de televisão que aprecie, e, até mais, insista em fazer seus deveres escolares, isto é, o corpo está indisposto mas a mente continua ativa. Qual seria o tratamento preconizado pela alopatia?
Se a amigdalite fosse viral: Antitérmicos, maior ingesta de líquidos e repouso.
Se a amigdalite fosse bacteriana: Idem acima e antibióticos.
A primeira abordagem, apenas sintomática, deixaria a doença seguir seu curso natural e não geraria supressão. Todavia, a segunda abordagem é francamente supressiva, pois trata a amígdala e não o doente como um todo. O alopata não considerou as reações do enfermo à bactéria em questão, para ele isto tem importância pequena no tocante à prescrição do antibiótico, no máximo receitaria um antibiótico de amplo espectro, se a criança estivesse mais prostrada, enquanto aguardava uma cultura do material colhido na garganta. Este tratamento, embora fizesse desaparecer a amigdalite, poderia levar o paciente a desenvolver, por exemplo, uma cistite ou, pior, alguma furunculose e, mesmo, anemia, isto é, subiria um pouco, ainda dentro do segundo andar em que esta criança estava (cistite), ou passaria para o terceiro andar (furunculose ou anemia). Questionado pelos pais do menor, o colega alopata talvez supusesse que a imunidade do seu paciente estivesse baixa, e realmente estava, para ter infecções assim repetidas. Jamais, entretanto, entenderia, este médico, que as “doenças” referidas estão unidas pelo eixo da supressão que ele mesmo gerou, e não por falta de capacidade pessoal, longe disto, mas por conta do método alopático. Um homeopata consultado também estaria apto a suprimir esta amigdalite se insistisse em medicar a amígdala, apenas a amígdala, mesmo que unicamente com seus remédios homeopáticos. Por outro lado, bastaria ao homeopata perceber que o único remédio que cobre todas as manifestações do enfermo frente à bactéria alojada em sua garganta, ou seja, o remédio homeopático que, em experimentações, tanto no Homem sadio quanto na vivência clínica diária, provocou e curou febres com moleza no corpo, muita sede, frio e manutenção da atividade mental em níveis normais, é X. Com este X, ele curaria qualquer enfermidade (curável) que a criança apresentasse, seja infecciosa ou não, não importa o órgão ou o tecido afetado, desde que acompanhada dos sintomas acima relatados. Por isso mesmo, ao considerar o todo e não apenas uma parte do paciente, o remédio X não seria supressivo naquele caso e evitaria a subida do menor para “andares” mais altos e mais graves do “edifício” exemplificado. Faria, até, um movimento oposto, se este movimento ainda fosse necessário ao paciente, e “empurraria” as futuras enfermidades da referida criança para “andares” mais baixos, no sentido de doenças menos graves que a anterior amigdalite, como, por exemplo, uma conjuntivite.
Parece simples, agora, entender o temor que nós, homeopatas, temos das supressões e o esforço diário de nossa parte em evita-las. Não é esta uma questão teórica, de crença quase religiosa como querem alguns colegas, de forma nenhuma. Trata-se de uma constatação prática, científica, já que verificamos os doentes “descerem” dos "andares" mais altos para os mais baixos, reeditando alguns sintomas das antigas doenças que tiveram, como já disse antes, quando medicados com o remédio homeopático escolhido para a sua totalidade de sintomas físicos e mentais. Ou seja: Os tratamentos supressivos (alopáticos ou homeopáticos mal orientados), após provocarem o desaparecimento artificial de uma doença, empurram as pessoas na direção de outras enfermidades mais sérias. Já os tratamentos homeopáticos executados segundo as proposições hahnemannianas, conduzem-nas "andares" abaixo, em direção à saúde física, conseqüência da harmonia interior, mental e emocional.
Com a intenção de deixar seus enfermos caminharem “andares” abaixo, os homeopatas, na maioria das vezes, não os medicam enquanto "descem", "andar" por "andar", no hipotético edifício. Assim, se alguém é curado de uma furunculose com um remédio homeopático bem eleito e, a seguir, surge com alguma laringite, não deverá ser tratado desta laringite, pois ela indica descida do terceiro andar (furunculose) para o segundo andar (laringite), que é o caminho de cura de todos nós. Em geral os enfermos reclamam, já que a laringite, ou qualquer outra afecção, os incomoda e querem “se ver livres” dela. Muito justo, é claro. Porém, tratar alguma doença mais simples para gerar outra mais grave, o que aconteceria caso impedíssemos a “descida” dos "andares", nunca estará nos planos de qualquer médico consciente deste fato e cioso com seu dever profissional.
Compreender a Homeopatia é de grande importância, pois evita que se interfira, erradamente, quando o caminho das curas que todos queremos está sendo percorrido.